Operação Spoofing

Narrativa sobre ‘hackers de Araraquara’ questionada: ‘É tudo contraditório’

Para Sérgio Amadeu, a história divulgada pela Polícia Federal não bate com ações de hackers verdadeiros

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Amadeu alerta que a história criada pela Polícia Federal sobre o caso é tem o objetivo de desqualificar as denúncias feitas pelo site The Intercept contra Moro

São Paulo – Hackers residentes em Araraquara, no interior paulista, e filiados ao DEM, mas que tuítam, de Brasília, mensagens de apoio ao PT, invadindo celular de ministro e presidente da República, deixando rastros e utilizando computadores sem a devida proteção. A história da Operação Spoofing sobre os supostos hackers que invadiram o celular do ministro Sergio Moro é questionada pelo sociólogo e ativista do movimento do software livre Sérgio Amadeu.

“São hackers que usam Windows, não se protegem com criptografia. É uma operação confusa. E se eles tivessem acesso ao conteúdo das conversas de Moro, isso significa que as conversas são verdadeiras? Dizem que tentariam até vender as mensagens falsas, pergunto o porquê, se poderiam inventar? Então, toda a narrativa está contraditória”, critica, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, na edição desta sexta-feira (26), da Rádio Brasil Atual.

Amadeu alerta que a “espetacularização” criada pela Polícia Federal sobre o caso tem o objetivo de desqualificar as denúncias feitas pelo site The Intercept, sobre os desvios cometidos por Sergio Moro e o procurador da Operação Lava Jato Deltan Dallagnol. “Qualquer investigação feita sob a orientação do ministro Sergio Moro não pode ser considerada válida, pelo fato de ser pego desvirtuando as funções essências de justiça. O acusado comanda a investigação sobre ele próprio”, acrescentou.

Questionável

O especialista também diferenciou os conceitos de crackers e de hackers. “Esses tais ‘hackers de Araraquara’ são crackers, pois os hackers são pessoas que quebram códigos, pela paixão ao desafio, e compartilham os códigos com a comunidade. A maioria deles são desenvolvedores de softwares livres. Já o cracker, em geral, é individualista e usa suas habilidades para obter vantagens pessoais”, explicou.

A explicação da PF sobre a metodologia da invasão é de que os celulares alvo recebiam ligações contínuas, com o aparelho ficando sem condições de receber ligação e outra pessoa teria instalado o Telegram para se fazer passar pelo usuário original. Ele classifica a justificativa como questionável. “Eles dizem conseguir confirmar isso checando dados das empresas de voz sobre IP e das operadoras, mas sem fazer uma perícia no celular.”

Sérgio Amadeu também explica que o termo spoofing, utilizado para nomear a operação da PF, não é uma ação com intuito de roubar mensagens telefônicas, mas dados bancários. “A técnica de spoofing existe e pode não ter sido aplicada pelos crackers. Um exemplo é o spoofing de e-mail. Você recebe uma mensagem dizendo “Banco do Brasil quer que você atualize sua senha”, ao colocar sua senha lá, eles pegam ela, entram na conta da pessoa e roubam”, afirmou.

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