Desprezo

Índios e quilombolas são recebidos com bala de borracha e bombas de gás em Brasília

Ameaçados desde os primeiros dias do governo Bolsonaro, índios e quilombolas clamam por saúde, pela defesa de suas terras e o direito de estudar

Polícia Militar do DF/Divulgação
Polícia Militar do DF/Divulgação
"Os policiais chegaram e sacaram spray de pimenta. Saímos correndo, sem saber como reagir. Fica como um desprezo para nós. A gente veio reivindicar em paz, não veio atrás de guerra”, conta Acauã Pataxó

São Paulo — O objetivo era chegar em Brasília para cobrar providências sobre os cortes na Bolsa Permanência, que auxilia estudantes indígenas e quilombolas alunos de universidades federais. A defesa da demarcação de terras e a recuperação do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no Sistema Único de Saúde (SasiSUS), extinto em março pelo governo de Jair Bolsonaro, eram também pautas dos povos quilombolas e indígenas que estiveram na capital federal na última terça-feira (4). A mobilização ocorreu dois meses após o acampamento Terra Livre, realizado em abril, também na capital federal. Porém, as coisas não saíram como os quilombolas e indígenas esperavam, e eles foram recebidos pela polícia militar com bombas de gás e balas de borracha

“Estávamos reivindicando nossos direitos na saúde, a bolsa permanência, a educação dos povos indígenas, fazendo nosso ritual. Os policiais chegaram e sacaram spray de pimenta, não só em mim, como também em outros parentes que estavam cantando. Saímos correndo, sem saber como reagir, de uma forma que nos deixou incapacitados de continuar nossa manifestação. Fica como um desprezo para nós. A gente veio reivindicar em paz, não veio atrás de guerra”, explica Acauã Pataxó, em reportagem de Beatriz Drague Ramos, na Rádio Brasil Atual.

Ao todo, cerca de 300 indígenas e quilombolas estiveram em Brasília para reivindicar pautas e demandas apontadas no acampamento de abril. Assim como Acauã Pataxó, a repressão policial deixou outros indígenas feridos, que foram encaminhados para o hospital.

“Alguns estudantes já estão pensando em voltar pra casa, porque a gente precisa pagar aluguel, pagar alimentação e transporte, fora os custos num grande centro urbano, que é muito caro. Então a gente preciso disso para se manter”, explica o quilombola João Batista, aluno na Universidade Federal da Bahia (UFBA). 

Segundo ele, desde 2018 os estudantes não estão recebendo a Bolsa Permanência, uma importante ajuda para indígenas e quilombolas manterem os custos com alimentação, moradia e transporte enquanto cursam a universidade. 

João Batista explica que os estudantes que não tinham a Bolsa Permanência, recebiam, por algum tempo, um auxílio emergencial, até ganhar a bolsa. Porém, com os cortes na educação, algumas universidades já anunciam que só terão o recurso do auxílio emergencial até julho. “É um direito que a gente já conquistou, sendo perdido, sendo levado por esse governo”, lamenta João Batista.

Ouça reportagem da rádio

Debate

Os frequentes ataques contra os povos indígenas é um dos temas do Fórum Teka Porão, que acontece até esta sexta-feira (7), no Auditório Lupe Cotrim, da Escola de Comunicação e Arte (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).  O encontro reúne lideranças indígenas de várias regiões do país, antropólogos e movimentos sociais.

Entre os temas em discussão, estão a demarcação de terras e sua importância para a cultura e a sobrevivência dos índios, assim como os próprios direitos constitucionais do povos indígenas.

“É lá dentro que está a essência desses povos, a espiritualidade, as medicinas tradicionais, os rios que produzem o pescado para poder se alimentar, que produz o alimento sem agrotóxico para poder garantir a vida dessas pessoas. Então queremos discutir que esse território tem que ser também um sujeito de direitos”, afirma Ninawá Huni Kui, presidente da Federação Povo Huni Kur, em reportagem de Jô Miyagui, da TVT.

Acompanhe a reportagem do Seu Jornal, da TVT

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