Questão de gênero

Maioria nas universidades, mulheres são minoria na produção de ciência

Elas ficam com 49% das bolsas do CNPq, das quais a maior parte são para iniciação científica, de menor valor e prestígio. E chegam menos ao comando: são só 19 no total de 63 reitores

Agência USP

Uma “barreira invisível” impede mais mulheres de crescer na profissão e alcançar cargos mais altos

São Paulo – As mulheres têm espaço cada vez maior na pesquisa. No Brasil, assinam 49% dos artigos científicos publicados. Mas a presença no topo em áreas tecnológicas e exatas, mais prestigiadas, ainda é tímida. Maioria na população brasileira, e no ensino superior no país, há 27 anos, conforme o IBGE, recebem 49% das bolsas concedidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a principal agência de fomento à pesquisa no país.

Elas ficam com 59% das bolsas na modalidade iniciação científica. Já nas de produtividade, mais prestigiadas, com financiamento maior, com apenas 35,5%. Entre as bolsas 1A, mais altas, somente com 24,6%.

Os dados são da reportagem Palavra de Pesquisadora, publicada na edição deste mês da revista Radis, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – órgão vinculado ao Ministério da Saúde. Clique aquipara acessar a publicação.

Conforme a reportagem, há carreiras com maior predominância numérica masculina, como nas áreas exatas e tecnológicas. 

E nas universidades federais brasileiras, há apenas 28,3% de mulheres como reitoras. Elas são 19 entre os 63 reitores, conforme levantamento de 2017 feito pela pesquisadora Anelise Bueno Ambrosini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Na Academia Brasileira de Medicina, apesar de as mulheres serem maioria entre os formandos (em torno de 55%), há apenas cinco mulheres entre os 115 membros, o que representa 4,3%.

Elas estão em desvantagem também quando o assunto é o reconhecimento do trabalho científico. De um total de 904 pessoas agraciadas com o prêmio Nobel desde 1901, apenas 51 são mulheres. Única mulher a ganhar duas premiações em áreas distintas – Química e Física –, a polonesa Marie Curie é até hoje referência em todo o mundo.

Além disso, a ascensão na carreira esbarra no chamado “teto de vidro”, a “barreira invisível” que impede mais mulheres de crescer na profissão e alcançar cargos mais altos.

A desigualdade de gênero na ciência é mundial. Conforme o relatório Women in Science, publicado em 2018 pela Unesco, apenas 28,8% dos pesquisadores do mundo são mulheres. Elas publicam menos artigos, têm menor colaboração internacional, menor mobilidade acadêmica, fazem menos pesquisas interdisciplinares e respondem por apenas 14% das invenções listadas em patentes.

“Na ciência, vemos na linguagem a expressão de signos do universo masculino como o combate, a conquista, a caça”, disse à publicação a presidenta da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, que considera que a equidade de gênero é uma das questões centrais para construção de uma sociedade mais justa. “Precisamos pensar em um mundo que preze valores do diálogo, da construção democrática. Isso deve ser uma luta de homens e de mulheres”.

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