Mais respeito

Estudantes de Medicina finalmente têm código de ética

Trotes responsáveis, respeito ao sigilo, uso ético de cadáveres e prevenção ao assédio moral e ao abuso nas escolas são contemplados no primeiro código de ética lançado pelo Conselho Federal de Medicina

Reprodução

Apologia ao estupro: estudantes de Medicina de Vila Velha (ES) causaram indignação com a foto de abril de 2017

São Paulo – Uma foto de sete estudantes de Medicina trajando jalecos brancos, as calças arriadas e as mãos em um gesto que remete à genitália feminina – uma apologia ao estupro – causou indignação em abril do ano passado. O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) chegou a afirmar que cobraria punição por parte da Universidade Vila Velha sobre um flagrante desrespeito à ética profissional, por meio de uma punição “compatível com o ocorrido”. O sindicato dos médicos do Espírito Santo e a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) reprovaram a atitude.

Dois dos estudantes que posaram para a foto postaram em seus perfis #PintosNervosos, #vemcrm (numa provocação ao Conselho Regional) e “Finalizando o dia de fotos”, o que pode sugerir que a imagem tenha sido feita por ocasião de uma sessão que reuniu toda a turma para a produção de fotos para os convites de formatura.

Em setembro, a reitoria divulgou que a sindicância aberta logo em seguida durou dois meses e que a supervisão do curso de Medicina iria acompanhar os alunos na execução de “trabalhos de responsabilidade social em prol das causas da mulher e de gênero”.

Episódios envolvendo estudantes de Medicina em festas, trotes, inclusive com violência física e até morte, assédio moral e relações abusivas nas faculdades não são raros no país. Por isso o Conselho Federal de Medicina lançou seu primeiro Código de Ética do Estudante de Medicina (CEEM) no Brasil. Trata-se de um conjunto de princípios para balizar as relações dentro e fora das salas de aula.

O texto se inspira em experiências semelhantes realizadas na Inglaterra, Estados Unidos e Canadá. Algumas instituições de ensino e conselhos regionais de Medicina haviam criado textos com o mesmo objetivo, mas com abrangência local.

O Código contém 45 artigos organizados em seis diferentes eixos, que ressaltam atitudes, práticas e princípios morais e éticos, servindo de orientação para alunos, professores e responsáveis pelas instituições de ensino. “A formação dos futuros médicos na graduação deve proporcionar aos estudantes o incentivo ao aperfeiçoamento da capacidade de lidar com problemas nos campos da moral e da ética em sinergia com as atividades relacionadas ao ensino e à prática profissional”, afirmou o presidente do CFM e coordenador da comissão nacional de elaboração do Código, Carlos Vital.

Segundo ele, o CFM e as entidades estudantis entendem que era “oportuno elaborar uma carta de princípios universais, aplicáveis a todos os contextos, para estimular o desenvolvimento de uma consciência individual e coletiva propícia ao fortalecimento de uma postura honesta, responsável, competente e ética, resultando na formação de um futuro médico mais atento a esses princípios fundamentais da atividade profissional e da vida em sociedade”.

Uma das situações abordadas no documento é o trato com cadáveres, em que o aluno deve guardar respeito no todo ou em parte, incluindo qualquer peça anatômica, assim como modelos anatômicos utilizados com finalidade de aprendizado. “O estudante deve aprender que o ser humano merece e precisa ser respeitado e não considerado apenas como mero instrumento de estudo”, defendeu Luz.

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