Tratar mioma pode ficar mais barato e acessível

O alto custo da embolização, procedimento minimamente invasivo e eficaz contra esse tipo de tumor, deverá ser reduzido com a utilização de um material desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Conhecidos como miomas ou fibromas, esses tumores benignos localizados no
útero afetam mais da metade das mulheres em idade fértil. Na maioria dos
casos são pequenos, não causam incômodo algum e sequer precisam de algum
tipo de tratamento. Em outros, no entanto, são grandes, múltiplos, provocam
dor, hemorragia, anemia, fraqueza e até dificultam a gravidez. Por causa
disso, todo ano, cerca de 180 mil brasileiras são submetidas à cirurgia para
retirada total do órgão.

Uma alternativa de tratamento minimamente invasivo, eficaz e que dispensa a
remoção do útero é a embolização. O procedimento consiste na interrupção do
fluxo sanguíneo que alimenta o tumor e o faz regredir de tamanho. Ou seja,
por meio de um fino cateter introduzido na artéria femoral, na virilha, o
médico injeta partículas esféricas microscópicas que são levadas até a micro
circulação dos miomas, onde se alojarão e interromperão a irrigação do
sangue. A internação é de um dia, e em uma semana a mulher já pode voltar a
fazer até exercícios físicos.

O problema é o alto custo dessas micro esferas, que inviabiliza a adoção da
técnica no sistema público de saúde. Um frasco do material importado custa
cerca de R$ 500 e são necessários dez deles para tratar cada mulher.

A boa notícia é que pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de
Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolveram um produto similar ao importado. Além de
funcionar perfeitamente para a embolização, tem custo consideravelmente
inferior.

Com a tecnologia do Coppe é possível produzir um quilo de partículas com
apenas R$ 100. “Com a possibilidade de fabricação dessas partículas no
Brasil, esperamos reduzir o custo da embolização e a democratização do
acesso à técnica”, explica Juraci Ghiaroni, professora de Ginecologia da
Faculdade de Medicina da UFRJ e médica do Serviço de Ginecologia do Hospital
Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ. “Até agora pouquíssimos
hospitais públicos a realizam”.

Segundo ela, treze pacientes se submeteram ao tratamento-piloto no Hospital
Universitário. “Foram tratadas mulheres que tinham miomas muito volumosos e
desejavam engravidar. Após a embolização os miomas diminuíram muito e
puderam ser retirados com a conservação do útero”, explica. Segundo a
especialista, as partículas testadas, que logo deverão ser comercializadas,
são indicadas também para tratar outros tumores semelhantes, além de
malformações – os temidos aneurismas.

O que são miomas

São os tumores sólidos mais frequentes do aparelho genital feminino. A
origem e o mecanismo de desenvolvimento ainda não são totalmente conhecidos.
É raro antes da primeira menstruação e geralmente regride após a menopausa.
Estima-se que a incidência do diagnóstico gire em torno de 12,8 por 1000
mulheres/ano. A doença é responsável por 1/3 das indicações de histerectomia
(retirada do útero).

Sintomas

Cerca de 80% dos miomas não apresentam sintomas. Na maioria dos casos são
diagnosticados por ultrassom de rotina e não requerem nenhum tipo de
tratamento senão o acompanhamento clínico periódico. Sangramento menstrual excessivo, dor pélvica, aumento do volume abdominal e infertilidade podem sinalizar o problema.

A dificuldade de engravidar associada ao mioma também é queixa frequente. No
entanto, o mioma como único causador de infertilidade é raro, e está
associado a 0,1 a 4,3 % de todas as gestações. Assim, mulheres com mioma têm
boas chances de engravidar e não devem necessariamente retirar o mioma antes
de tentar uma gestação.