Vacina contra Aids é ‘passo importante’ contra a doença

Duas agências da ONU disseram que há agora uma 'nova esperança' no combate à doença, mas que é preciso mais empenho

Washington – Uma vacina experimental contra a Aids, feita a partir de duas versões mais antigas, obteve importantes progressos na busca por uma forma efetiva de combater a doença, disseram pesquisadores na quinta-feira (24).

Mas sua aplicação pode ser limitada, e uma vacina comercial ainda pode exigir mais tempo.
O Ministério da Saúde tailandês, onde os testes foram realizados, qualificou o resultado como “um passo muito importante para desenvolver uma vacina contra a Aids.”

Duas agências da ONU disseram que há agora uma “nova esperança” no combate à doença, mas que é preciso mais empenho. Pelo menos um pesquisador sugeriu que a vacina pode não ser eficaz em áreas e em casos onde a Aids é mais prevalente.

A vacina combina a vacina Alvac, contra varíola dos canários, do laboratório Sanofi-Pasteur, e a fracassada vacina Aidsvax, contra a Aids, desenvolvida por uma empresa de San Francisco chamada VaxGen, hoje propriedade da organização não-lucrativa Global Solutions for Infectious Diseases.

O teste foi patrocinado pelo Exército dos EUA e conduzido pelo ministério tailandês da Saúde Pública. Autoridades dos dois países disseram em entrevista coletiva em Bangcoc que o risco de infecção entre 16.402 voluntários foi reduzido em 31,2%.

“O resultado do estudo é um passo importantíssimo no desenvolvimento de uma vacina da Aids”, disse o ministro tailandês da Saúde, Withaya Kaewparadai. “É a primeira vez no mundo que encontramos uma vacina que possa evitar a infecção pelo (vírus) HIV.”

O resultado intrigou os pesquisadores, que disseram não entender por que a combinação de vacinas funcionou. Críticos diziam que o teste seria antiético e um desperdício de dinheiro, já que não havia expectativa de que a vacina funcionasse.

“Eu, como outros, não achávamos que houvesse uma chance muito alta de que isso conferisse qualquer grau de eficácia”, disse Anthony Fauci, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, que ajudou a pagar o estudo. “Mas mesmo assim fomos adiante com o teste, e foi polêmico ir adiante com ele.”

Em Genebra, a Organização Mundial da Saúde e o Programa Conjunto da ONU para o HIV/Aids disse: “Os resultados do estudo, representando um avanço científico significativo, são a primeira demonstração de que uma vacina pode evitar uma infecção pelo HIV numa população adulta geral, e são de grande importância.” As duas agências, em nota conjunta, qualificaram a eficácia da vacina como “modestamente produtiva”.

As ações da Sanofi abriram em alta de 1,6% no pregão de Paris, mas às 6h04 (hora de Brasília) já caíam 0,24%, cotadas a U$ 50,75 , enquanto o índice DJ, de empresas do setor de saúde, caía 0,57%.

“Ainda não vemos uma vacina comercial sendo disponibilizada durante algum tempo, mas a perspectiva finalmente surgiu (após 30 anos de tentativas) de que uma vacina efetiva é possível”, disse Michael Leacock, analista do ABN-Amro.

Tornando o cenário ainda mais turvo, pessoas que foram contaminadas mesmo depois de receber a vacina tinham a mesma carga viral e os mesmos danos ao sistema imunológico do que pacientes que não haviam sido vacinados. Isso significa que a vacina ajudou a evitar infecções, mas não serviu para conter o vírus uma vez que ele se instalava no organismo.

“Tivemos 74 infecções no grupo do placebo e 51 no grupo da vacina”, disse por telefone o médico Jerome Kim, coronel do Exército dos EUA, que participou da coordenação do estudo.
“Embora o nível de proteção que tenhamos visto seja claramente modesto, o estudo é um grande avanço científico”, afirmou.

Kim acrescentou que a vacina pode não funcionar em pessoas e lugares onde o HIV é mais comum – na África, entre homens que fazem sexo com outros homens e entre usuários de drogas injetáveis.

“A vacina foi testada na Tailândia e é realmente específica para as cepas que circulam atualmente na Tailândia”, disse Kim.

Fauci e Kim lembraram que a vacina foi formulada para atuar especificamente contra dois subtipos do HIV – o E, que circula no Sudeste Asiático, e o B, comum na Europa e EUA.

Os voluntários receberam seis imunizações ao longo de seis meses: quatro com o Alvac e duas com o Aidsvax.

A Alvac usa um vírus geneticamente alterado da varíola de canários, que contém versões genéticas de três genes do HIV. A Aidsvax usa duas versões de um gene do HIV – um do subtipo B, e outra do subtipo E.

O vírus da Aids está presente em cerca de 33 milhões de pessoas no mundo e já matou 25 milhões desde que foi identificado, na década de 1980. Ele destrói células imunológicas do organismo. Coquetéis de medicamentos conseguem controlar o vírus, mas não há cura.

Em 2007, o laboratório Merck suspendeu o teste de uma vacina por concluir que ela não fazia efeito. Um teste da Aidsvax em 2003 também apresentou resultados negativos.

Fonte: Reuters

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