Pesquisador diz que Gripe A mostrou fragilidade do mundo

Especialista em virologia considera que genética reversa vai garantir ao Brasil, no futuro, produzir vacina com rapidez e sem dependência de tecnologia estrangeira

Lâmina do vírus Influenza A H1N1: pesquisador espera que, em futuras pandemias, o país não fique tão dependente de vacinas estrangeiras (Foto: Reuters)

Rio de Janeiro – A pandemia de Gripe A (H1N1) serviu como “lição para mostrar a fragilidade do mundo” no que se refere ao controle de epidemias e ao estoque de vacinas. A afirmação é do especialista em virologia Alexandre Machado, do Centro de Pesquisas René Rachou, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que pesquisa o desenvolvimento de vacinas contra influenza e outras doenças.

Há cinco anos, Alexandre Machado e um grupo de pesquisadores do Centro René Rachou vêm estudando uma forma de produzir vacinas bivalentes para a influenza (ou seja, que imunizam contra a gripe e uma segunda doença com uma única dose), usando uma técnica conhecida como genética reversa.

Segundo essa técnica, já usada por alguns laboratórios estrangeiros, os segmentos genéticos do vírus são isolados e colocados dentro da célula de uma bactéria, que será usada para imunizar a pessoa. A nova técnica difere da tradicional, que consiste na inoculação do vírus dentro de um ovo de galinha para produzir uma dose da vacina.

Com a técnica de genética reversa, explica Machado, o número de doses de vacina não ficará mais restrito à disponibilidade de unidades de ovos de galinha e isso pode ampliar a capacidade de produção de doses.

“O que a gente espera é que, futuramente, quando houver outra pandemia, a gente consiga produzir uma vacina nacional e não fique tão dependente de tecnologia estrangeira. Mas também esperamos poder contribuir com qualquer instituição pública ou privada que tenha interesse em produzir a vacina”, disse Machado.

Segundo o pesquisador, por enquanto a pesquisa está sendo feita com camundongos e envolve um vírus influenza que afeta apenas esses animais. Dentro de dois anos, ele espera que os estudos avancem a tal ponto que já seja possível trabalhar com os vírus influenza que atingem humanos, como o Influenza H1N1, causador da gripe suína.

Alexandre Machado prevê que serão necessários pelo menos três anos para que seja desenvolvida uma vacina brasileira, a partir dessa nova técnica. Para ele, é preciso, no entanto, continuar os estudos, mesmo que seja para uma época futura.

“Para você ver, o problema (da gripe suína) começou em abril. Mas, mesmo em países como os Estados Unidos ou a França, onde já se tem a técnica de genética reversa implantada, só em setembro eles terão os primeiros lotes da vacina. E já estão anos-luz à frente. No nosso caso, a gente está nos primeiros passos na caminhada de mil milhas, mas nós estamos caminhando”, disse.

Fonte: Agência Brasil