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Varíola dos macacos avança no mundo. Cientistas estudam a transmissão sexual

Número global de casos notificados da doença subiu mais de 50% em uma semana. Cientistas correm para entender possíveis padrões de contágio

Narional Institute of Allergy and Infectious Diseases/Sciente Source
Narional Institute of Allergy and Infectious Diseases/Sciente Source
Foto colorizada do vírus da varíola do macaco: Parece que o vírus encontrou um "novo meio", ou "um novo nicho" de transmissão

São Paulo – A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou nesta terça-feira (5) um aumento que considera “preocupante” nos casos de varíola do macaco reportados no mundo. De acordo com a entidade, em menos de uma semana as ocorrências da nova doença que ameaça se espalhar em níveis pandêmicos subiram 55,9%. Levados em conta apenas os contágios confirmados em laboratório, são 5.322 doentes. Na última quinta-feira (30), o balanço apontava para 3.413 infectados. Ao mesmo, a ciência corre para entender o comportamento do vírus. Entre algumas hipóteses, a de que o vetor pode ter encontrado um “nicho” de transmissão sexual.

A Europa segue como o continente com maior o número de casos, com 85% deles. Pelo menos 53 países já reportaram doentes da varíola do macaco em seus territórios. No Brasil, informe do Ministério da Saúde dá conta de 76 casos. “A OMS segue pedindo aos países que prestem atenção especial aos casos de varíola do macaco, para tentar limitar as contaminações”, disse a porta-voz da entidade, Fadela Chaib, em coletiva em Genebra.

A realidade da varíola do macaco pode ser ainda mais severa. Levantamento da iniciativa Global Health, que reúne esforços de universidades de todo o mundo, como Harvard (EUA) e Oxford (Inglaterra), são cerca de 7 mil infectados. No dia 23 de junho, a OMS realizou reunião de emergência para analisar os riscos da doença se tornar um problema mais sério, como é ainda a covid-19. Contudo, os cientistas concluíram não haver indícios suficientes para classificar o surto como Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional.

Sexualmente transmissível?

A varíola do macaco é transmitida por meio de fluídos corporais. Conhecido desde a década de 1970, o vírus nunca seguiu um padrão de contágio acelerado, ficando sempre restrito a localidades da África Central em pequenos surtos. Porém, agora parece que o vírus encontrou um “novo meio”, ou “um novo nicho” de transmissão, como aponta estudo publicado no mês passado na revista Science.

“Este vírus não se espalhou bem no passado entre humanos, mas ele parece ter encontrado um novo nicho, que pode estar fortemente relacionado com redes sexuais”, afirma o biomédico e jornalista especializado em ciência e em doenças sexualmente transmissíveis Kai Kupferschmidt. O divulgador científico e microbiólogo Atila Iamarino, classifica a perspectiva de Kai como “interessante e preocupante”. “Se os esforços de contenção não forem mobilizados agora, estamos presenciando o estabelecimento de uma nova infecção sexualmente transmissível”, avaliou.

Não existe ainda uma confirmação da ciência sobre a transmissão específica via fluídos sexuais. Contudo, autoridades de países como o Reino Unido recomendam que infectados reforcem os cuidados como uso de preservativos por oito semanas após a infecção, mesmo que ela já tenha sido curada.


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