Fumaça que adoece

Vizinhança de polo petroquímico do Grande ABC tem mais doenças, relata cientista a CPI

Doenças da tireoide, doenças respiratórias, conjuntivite e dermatite são mais incidentes em moradores do entorno da Petroquímico no ABC

Reprodução/Youtube
Reprodução/Youtube
O polo nega, mas a ciência mostra que os componentes químicos presentes na fumaça das suas chaminés estão associados a surgimento de todas essas doenças

São Paulo – A população do entorno do polo petroquímico localizado no bairro de Capuava, em Mauá, no Grande ABC paulista, está mais exposta a doenças da tireoide, rinite, sinusite, faringite, bronquite, asma, conjuntivite e dermatite do que a que mora em outras áreas sem indústrias químicas similares às do polo. A afirmação é da professora de Endocrinologia da Faculdade de Medicina do ABC, Maria Angela Zaccarelli Marino. Ela foi dar seu relato, na úlima quinta-feira (19), à Comissão Parlamentar de Inquérito que apura danos à saúde da população e ao meio ambiente da região próxima ao polo.

Com os últimos 32 anos dedicados à pesquisa das condições de saúde na região, a médica contou ao colegiado como iniciou seu trabalho junto aos bairros do local. Com uma prancheta na mão, batendo de porta em porta, a médica entrevistou e coletou dados sobre a saúde de mais de 3,6 mil moradores. Tudo começou em 1989, quando ela diagnosticou um caso de tireoidite crônica autoimune em um homem jovem, o que não era comum até então.

Também conhecida como tireoidite de Hashimoto, a doença é incurável se não for tratada e pode levar ao coma e à morte. Em crianças, pode provocar retardo mental e de crescimento. 

Em 1992, a médica já havia diagnosticado mais cinco pacientes. Em 2001, eram 106 pessoas com o mesmo diagnóstico. O quadro se mostrou ainda mais grave quando, no mesmo ano, foram encontradas 11 pessoas com a mesma doença em uma localidade livre dos contaminantes, a chamada área controle, para efeitos de comparação na pesquisa que ela veio a publicar mais tarde.

Canais

“Como não se trata de uma doença tão comum, e havia muitos casos em uma região não tão grande assim, notifiquei o caso às autoridades de saúde. Em 2002, após a notificação, um trabalho do Centro de Vigilância do Estado de São Paulo confirmou os resultados de que a poluição poderia causar a doença autoimune”, afirmou Maria Angela à CPI.

“É importante que a população de São Paulo consiga ter conhecimento e a Câmara é a provedora disso, nesse momento, ao trazer o debate aqui para dentro através da CPI”, disse o vereador Alessandro Guedes (PT), presidente da CPI e autor do requerimento de instalação. Toninho Vespoli (Psol), é o relator da comissão, que tem ainda Faria de Sá (PP), Sandra Tadeu (União) e Xexéu Tripoli (PSDB). A reunião de hoje teve a participação do vereador de Santo André Ricardo Alvarez (Psol).

Durante a sessão, foi lançado um canal específico para receber contribuições e manifestações de quem mora nos bairros do entorno do Polo Petroquímico e se sente prejudicado pelos impactos da poluição. “É muito importante que a população participe e se envolva a fim de enriquecer esse debate”, disse o vereador Guedes.

Para participar e dar depoimentos, é preciso acessar esse endereço

Entre os diversos estudos da professora Maria Angela que foram publicados em revistas científicas internacionais, estão aqueles que identificam quais são as partículas químicas que saem das chaminés em cooperação com o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP). As substâncias encontradas estão diretamente associadas aos problemas relatados pela população e esse vínculo é confirmado na literatura científica.

Assista sobre a saúde da população exposta à poluição: