Sob Bolsonaro

‘O presente nos oprime, mas o futuro nos pertence’, afirma vice-presidenta da SBPC

Fernanda Sobral destaca que cientistas vivem opressão, com negacionismo, cortes orçamentários e perseguições

Flickr/Senado
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A dirigente da sociedade científica lamenta o quadro desalentador pelo qual passa a ciência no país

São Paulo – “O presente nos oprime, mas o futuro nos pertence”, afirma a socióloga Fernanda Sobral, vice-presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), quando questionada sobre a situação atual da ciência no Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro. “Temos cortes nos orçamentos destinados à ciência e tecnologia, às universidades. Enfrentamos o negacionismo em relação à ciência, as perseguições a cientistas, as dificuldades de acesso a dados estatísticos. Um quadro desalentador”, disse em entrevista à RBA.

Para se ter um ideia, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agências financiadoras de pesquisas vinculadas ao ministérios da Educação (MEC) e Ciência e Tecnologia (MCTI), respectivamente, perderam aproximadamente 51% da verba para financiar pesquisas nos últimos dez anos. Isso atinge em cheio as universidades federais, que fazem a maior parte da ciência brasileira em seus programas de pós-graduação.

Leia mais: Sem ciência não há futuro. Sem pós-graduandos, não há ciência

O Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), a principal fonte de financiamento da pesquisa científica no país, tem represado R$ 2,7 bilhões. Antes de deixar o Ministério, o ministro astronauta Marcos Pontes anunciou com pompa que liberaria “quase R$ 1 bilhão”, o que, mesmo se ocorrer, fica aquém das necessidades. O governo também anunciou a recomposição do orçamento em pesquisa da ordem de R$ 6 bilhões, que foi visto com cautela pelos cientistas, que temem contingenciamento, a exemplo do que aconteceu nos últimos anos.

Ontem (2), a SBPC e a Universidade de Brasília anunciaram a 74ª Reunião Anual, que será realizada de 24 a 30 de julho, na própria UnB, com atividades abertas ao público. O tema será “Ciência, independência e soberania nacional”, em alusão ao bicentenário da Independência do Brasil e ao centenário da Semana de Arte Moderna. Também haverá transmissão pelos canais da SBPC e UnB no YouTube.

Realizada sem interrupções desde 1949, em um estado brasileiro diferente a cada ano, quase sempre em universidade pública, a reunião foi no formato virtual nos dois últimos anos devido ao agravamento da pandemia da covid-19, que já matou mais de 664 mil pessoas no Brasil. A programação científica incluirá conferências, mesas-redondas e painéis; e também atrações como a SBPC Jovem, uma exposição voltada a estudantes do ensino básico e público em geral; a Expo C&T; a SBPC Cultural, com apresentação de atividades artísticas regionais e debates, entre outros.

A SBPC está promovendo uma série de seminários para discutir propostas nas mais diversas áreas. O objetivo é elaborar um documento que será entregue aos candidatos à Presidência da República e ao Congresso. Nesta quarta-feira (4), às 16h, haverá debate sobre direitos humanos. Para assistir, é só acessar o canal no YouTube.


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