Desigualdade

Mulheres têm menos acesso a oportunidades na ciência, afirma a Unesco

Apesar do crescimento da participação das mulheres na ciência, elas seguem como minoria absoluta. “Estima-se que apenas uma mulher para cada quatro homens consiga um emprego na área”

Jefferson Peixoto/Secom/Fotos Públicas
Jefferson Peixoto/Secom/Fotos Públicas
"O preconceito de gênero veiculado nas famílias, nas escolas e na mídia, tende a desencorajar as meninas a especializarem-se"

São Paulo – As mulheres na América Latina e Caribe também sofrem com a desigualdade de gênero na área de ciência e pesquisa. É a conclusão do mais novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sobre o tema. O documento foi elaborado em parceria com a entidade de Educação e Cultura do governo britânico British Council. O texto é intitulado Uma equação desequilibrada: participação crescente de Mulheres em Stem na ALC (América Latina e Caribe).

Entre os problemas apontados está a baixa participação das mulheres em cargos de liderança nas áreas de “ciência, tecnologia, engenharia e matemática” (‘Stem’, na sigla em inglês para “Science, Technology, Engeneering, Mathematics”). “O sexismo na sociedade e, particularmente, no ensino superior, dificulta a progressão de mulheres estudantes em disciplinas Stem e afeta o acesso a cargos de chefia e liderança”, sentencia o British Council.

Apesar do crescimento da participação feminina, elas seguem como minoria absoluta. “Estima-se que apenas uma mulher para cada quatro homens consiga um emprego na área de Stem. As disparidades de gênero na ciência contribuem significativamente com a desigualdade econômica na sociedade”. A entidade prossegue: “Ainda existem lacunas em diferentes níveis de educação e progressão de carreira em quase todos os países do mundo. Essas falhas podem ser observadas em todas as fases do ciclo de vida de meninas e mulheres, desde a escola primária até em altos cargos no campo científico”.

Padrões impostos

O preconceito de gênero, o machismo e o sexismo são estruturais, aponta o documento. As influências prejudicam a paridade e a isonomia entre homens e mulheres no campo do trabalho. “Por meio da influência familiar, as meninas e as mulheres são induzidas a fazer escolhas dentro de padrões definidos para elas, inclusive na escolha da carreira profissional. A concentração feminina e masculina em determinados tipos de carreira, faz com que as mulheres tenham menos oportunidades profissionais. Este fenômeno é chamado de segregação horizontal, também conhecido como segregação ocupacional”.

As estruturas machistas são reafirmadas em diferentes estruturas, afirma o British Council. “O preconceito de gênero veiculado nas famílias, nas escolas e na mídia, tende a desencorajar as meninas a especializarem-se em Stem. Por exemplo, os modelos de brinquedos, leituras, filmes e outras práticas culturais estão relacionados a papéis de gênero socialmente estabelecidos. Um dos costumes frequentes é o desinteresse pelos jogos tecnológicos, que é considerado um hábito masculino”.

Diante deste cenário, o relatório versa sobre “segregação vertical”. Trata-se da hegemonia masculina em posições de comando. “Mesmo exercendo atividades produtivas, as mulheres têm menos reconhecimento e são desencorajadas profissionalmente e intelectualmente. O termo segregação vertical descreve o domínio dos homens nos empregos de maior status, este efeito impede as mulheres de atingir níveis de igualdade de hierarquia, qualificação e remuneração”.

Longo caminho

Por fim, o relatório aponta para uma lista de fatores que impedem que as mulheres alcancem as posições de destaque com paridade em relação aos homens:

  • A falta de conscientização entre as gerações mais jovens, particularmente as meninas, sobre o potencial dos estudos Stem;
  • A carência de informação geral na sociedade sobre as próprias carreiras em Stem, que tendem a ser consideradas especializações mais difíceis;
  • A ausência de pedagogia e de ferramentas, bem como de infraestrutura, que afetam a maioria das escolas públicas e privadas, especialmente aquelas localizadas longe dos centros urbanos e culturais;
  • A pobreza persistente e a alta desigualdade socioeconômica;
  • Os fatores de interseccionalidade e classe afetam meninas e mulheres de diferentes maneiras, aumentando os níveis de discriminação desde a sala de aula e continuando ao longo da carreira acadêmica;
  • O sexismo na sociedade e, particularmente, no ensino superior, dificulta a progressão de mulheres estudantes em disciplinas Stem e afeta o acesso à cargos de chefia e liderança;
  • A falta de modelos femininos para mudar os estereótipos e aumentar o interesse em Stem, principalmente entre os mais jovens, e outros.


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