cuidado na folia

Carnaval de rua pode levar a aumento de casos da variante XE, alerta sanitarista

Ex-diretor da Anvisa acredita que a variante XE deve ter comportamento similar aos das cepas anteriores da ômicron, com aumento de casos, mas sem hospitalizações e mortes na mesma proporção

Rovena Rosa/Agência Brasil
Rovena Rosa/Agência Brasil
Na esteira dos desfiles nos sambódromos, blocos também querem participar da folia em Tiradentes. Mas especialista recomenda "paciência"

São Paulo – A terceira onda da pandemia parece estar próxima do seu fim. Os números de casos e óbitos por covid-19 estão em contínua redução há mais de dois meses. Dessa maneira, o ex-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina, professor da professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), disse que é “boa” a situação atual, mas não “excelente”. Ele chamou a atenção para o aumento da positividade dos testes de covid-19 em farmácias, que registrou leve alta nos últimos dias.

Ele acredita que esse aumento recente é consequência da chegada da variante XE ao Brasil. O Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de contaminação pela variante XE na semana passada. Assim, ele alerta para os risco do carnaval de rua no feriado de Tiradentes (21 de abril). Vecina diz que essas festas só deveriam ocorrer caso haja o controle do passaporte de vacinação.

“Está me preocupando principalmente por causa do carnaval de rua. Por mais que a os municípios tentem controlar, é incontrolável”, disse Vecina. “O passaporte da vacina é o nome da diferença”. Ele não se opõe, por exemplo, à realização dos desfiles de Carnaval nos sambódromos, como deve ocorrer no Rio de Janeiro e em São Paulo. Isso porque só será permitida a entrada do folião que estiver com a imunização em dia. Mas não acredita que as prefeituras por todo o país consigam estabelecer um rígido controle nos festejos de rua.

“O que nós devemos ter é um aumento da transmissão. Então vamos esperar um pouco para para ter uma noção do que que nós vamos ter pela frente. É basicamente isso. Temos que ter um pouco de paciência”, disse Vecina, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (11)

Cenários

Na impressão de Vecina, a variante XE deve ter um comportamento semelhante a das cepas BA.1 e BA.2 da ômicron. Essa nova variante é justamente a combinação dessas duas subvariantes. Portanto, o cenário mais provável, segundo ele, é de um eventual aumento de casos, mas que não deve ser acompanhado necessariamente de uma alta nas internações e óbitos. Caso as mortes e hospitalizações também aumentem, ele prevê que as medidas de contenção da covid-19, que foram flexibilizadas ultimamente, deverão “retroceder”.

Vecina ainda relatou preocupação com o ritmo lento da imunização, em especial da dose de reforço. Até o momento, apenas 50,24% dos brasileiros com cinco anos ou mais já tomaram a terceira dose. Ele lembrou que, em São Paulo, esses índices são maiores, mas ainda longe do ideal.

Ele também reforçou a recomendação para que os idosos acima de 60 anos tomem as doses de reforço. Nesse sentido, disse que não tem problema tomar, ao mesmo tempo, a vacina da gripe também. “Se você estiver bem de saúde, o corpo responderá à necessidade de produzir vários anticorpos. Então não há problema de tomar duas doses juntas”.

Além disso, Vecina explicou que os motivos que levaram a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) a recomendar a segunda dose de reforço apenas para idosos acima de 80 anos. Isso porque, segundo ele, esse segundo reforço aumenta apenas levemente a produção de anticorpos. E esse elevação tem duração limitada. Esse quadro está relacionado muito mais ao próprio envelhecimento do sistema imunológico das pessoas, do que a eficácia das vacinas. Por isso, ele também considerou como correta a decisão de países europeus que estão aplicando o segundo reforço, apesar das considerações da EMA. “Temos dúvidas, porém é mais certo que ajude do que prejudique”.

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