Responsabilidade

Pandemia não acabou, e descaso preocupa pesquisadora da Unesp

Pesquisadora da Unesp Rejane Grotto lamenta fim precoce de medidas contra a covid-19

Mateus Pereira/GOVBA
Mateus Pereira/GOVBA
"Combinação de mais encontros sociais e queda no uso de máscaras aumenta risco de contaminação por um indivíduo infectado", afirma cientista

São Paulo – Os estados brasileiros estão em processo de abandono do uso de máscaras contra a covid-19. Soma-se a isso o fim das já frágeis políticas de testagem. “Essas mudanças trazem mais oportunidades para a ocorrência de festas e aglomerações, o que pode levar a uma transmissão maior do vírus”, lamenta a bióloga Rejane Maria Tommasini Grott, pesquisadora em Virologia da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). A cientista afirma que, na oposição do que é sensível pelas ruas do país, “a pandemia não acabou“.

Rejane engrossa a postura da Organização Mundial da Saúde (OMS), cujo diretor, Tedros Adhanom, disse no início desta semana que o drama não cessou. Entretanto, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que sempre adotou postura negacionista durante a pandemia, mantém sua posição. “Não se justifica mais todos esses cuidados no tocante ao vírus (…) Parece que a situação da pandemia acabou”, disse Bolsonaro no último dia 15.

Embora exista consenso na comunidade científica quanto a medidas de segurança mais brandas devido ao avanço da vacinação, algumas ações do poder público estão precipitadas. “Com a combinação de mais encontros presenciais, na forma de festas e encontros sociais, com a queda no uso de máscaras. É bastante óbvio que isso aumenta as chances de contaminação no caso da presença de um indivíduo infectado”, disse Rejane em entrevista ao Podcast Unesp.

Acabou a pandemia?

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, planeja decretar o “fim da pandemia” no início do mês de abril, por meio de uma portaria. A informação foi confirmada por Bolsonaro na semana passada, em entrevista para a TV Ponta Negra, afiliada do SBT no Rio Grande do Norte. Entretanto, os fatos jogam, novamente, contra o presidente negacionista. Diferentes regiões do mundo enfrentam novos desafios com o avanço da subvariante BA2 da ômicron. China, Reino Unido, Alemanha, entre outras nações estudam a adoção de medidas para frear o vírus; incluindo a adoção pontual de ações mais drásticas como o lockdown.

A China, por exemplo, mandou confinar cerca de 41 milhões de pessoas por causa de surtos de covid-19 no país na semana passada. Já a Coreia do Sul registrou no dia 17 um novo recorde diário de casos, com mais de 620 mil infecções. Para evitar uma nova escalada de mortes e o sufoco no sistema hospitalar, é necessário cautela e testagem massiva. Assim, com inteligência epidemiológica e vacinação avançada, será possível evitar mortes desnecessárias, assim como a adoção de medidas mais agressivas de isolamento social.

Balanço

O Brasil segue como um dos países mais afetados pela covid-19 em todo o mundo. O segundo país com maior número de vítimas soma 658 mil mortos, sem contar a ampla subnotificação. Nas últimas 24 horas, foram 302. Também foram registrados 47.376 novos casos, totalizando 29.729.991 desde o início do surto, em março de 2020. Os números são do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

acabou a pandemia?
Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conass


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