Precipitação

Fim do uso de máscaras no Rio é ‘temerário’ e deve causar ‘efeito dominó’, diz epidemiologista

Jesem Orellana (Fiocruz) diz que decisão é inoportuna. “Cenário perfeito” para negacionistas”

Fernando Frazão/ABR
Fernando Frazão/ABR
Agora, o uso de máscaras segue obrigatório no estado apenas nos serviços de saúde público, privado ou filantrópico

São Paulo – A prefeitura do Rio de Janeiro anunciou nesta segunda-feira (7) o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras. É a primeira capital a liberar o uso da proteção facial inclusive em ambientes fechados. A medida foi anunciada pelo prefeito Eduardo Paes (PSD) pelas redes sociais. A decisão é respaldada pelo Comitê Científico local, baseada no cenário de queda de mortes e de casos de covid-19 e no avanço da vacinação.

A capital fluminense havia encerrado em outubro o uso obrigatório de máscaras em locais abertos. Agora, todos os estabelecimentos, públicos ou privados, não precisam mais exigir a utilização do item, nem mesmo nos transportes. O epidemiologista da Fiocruz-Amazônia Jesem Orellana considera essa decisão “inadequada” e “precipitada”. E afirma que a situação epidêmica ainda não está sob controle “claro e sustentado”, nem no Rio, muito menos nas demais regiões metropolitanas brasileiras.

Paes também afirmou que pretende acabar com o passaporte da vacina, mas quando 70% dos cariocas tiverem tomado a dose de reforço, o que poderia ocorrer em três semanas. “Para os negacionistas, será o cenário perfeito, pois estarão livres da vacina e das máscaras”, criticou o epidemiologista.

“Como o Rio de Janeiro é uma das cidades turísticas mais importantes do planeta, fazer um relaxamento tão incerto como este é ao menos temerário”, afirmou o especialista. Para ele, medidas de flexibilização desse tipo só deveriam ser tomadas de quatro a seis semanas após a transmissão comunitária da covid-19 atingir níveis “constantemente baixos”.

“Aí sim, poderíamos iniciar flexibilizações escalonadas e cuidadosas quanto ao uso de máscaras. Mas, nossa triste realidade, comprovada pelos aterradores números de mortes conhecidas ou pelas centenas de milhares de pessoas com covid longa, mostram como as autoridades tratam o Brasil como um autêntico laboratório a céu aberto na pandemia”, criticou.

Efeito dominó

Jesem afirmou que, com a decisão “infeliz e inoportuna” do Rio de Janeiro “certamente haverá um efeito dominó”. Com outras capitais seguindo esse exemplo, no entanto, o epidemiologista prevê um aumento na circulação do novo coronavírus.

Além do risco de covid longa, ele destacou que a população infantil está longe de completar o ciclo vacinal. “Os menores de 5 anos, por exemplo, nem sequer têm expectativa de quando receberão a primeira dose”, destacou. Nesse sentido, o aumento da circulação do vírus, segundo ele, também amplia o risco de surgimento de “novas variantes de preocupação.”

Balanço da covid no Brasil

Hoje, o Brasil registrou 198 mortes pela covid-19. É o menor número desde 17 de janeiro, quando os óbitos começaram a subir em função da nova onda causada pela variante ômicron. A média móvel, que ficou em 430 por dia, também é a mais baixa em 35 dias.

Os casos registrados nas últimas 24 horas totalizaram 20.456, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). É o menor índice desde 4 de janeiro. Assim, a média móvel de casos, que ficou em 40.264/dia, também é a mais baixa em quase dois meses.

Contudo, ainda não é possível se período de carnaval não terá impactos na transmissão. É preciso de uma a duas semanas para que eventual aumento no número de casos apareça nos registros oficiais. Já aumento de óbitos ficaria mais evidente a partir da terceira semana.

Ao todo, o país tem 652.341 óbitos pela covid confirmados oficialmente, e pouco mais de 29 milhões de casos.

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass)