Subnotificação

Covid-19: número real de mortes no mundo pode ser três vezes maior do que os dados oficiais

Estudo publicado pela revista científica The Lancet aponta que 18,2 milhões de pessoas teriam morrido em decorrência da covid-19 até 31 de dezembro de 2021

Breno Esaki/Agência Saúde-DF
Breno Esaki/Agência Saúde-DF
Estatística feita com base no excesso de mortalidade ajuda a reduzir efeito da subnotificação de dados relativos à doença

São Paulo – Um estudo publicado pela revista científica The Lancet na quinta-feira (10) mostra que o número de mortos pela covid-19 no mundo deve ser muito superior às estatísticas oficiais. Segundo a análise, o total de vidas perdidas para a pandemia até 31 de dezembro de 2021 foi próximo de 18,2 milhões, superando em três vezes as 5,9 milhões de mortes relatadas a várias fontes oficiais no mesmo período.

A diferença se deve à subnotificação decorrente de relatórios atrasados e incompletos e mesmo à falta de dados em dezenas de países. Para estimar os óbitos decorrentes da covid-19, o estudo utilizou uma medida chamada excesso de mortalidade, uma ferramenta para superar a variação na forma como os países identificam e registram mortes pelo coronavírus. Os pesquisadores comparam o total de óbitos notificados em uma região ou país, de todas as causas, com quantas mortes seriam esperadas por conta das tendências dos últimos anos.

“Entender o verdadeiro número de mortes da pandemia é vital para uma tomada de decisão eficaz em saúde pública”, diz o coautor do estudo Haidong Wang, demógrafo e especialista em saúde populacional do Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME) em Seattle, Washington, à revista Nature.

A equipe responsável pelo estudo coletou dados sobre mortes por todas as causas em 74 países e territórios. Para países que não produzem tais dados, os autores utilizaram um modelo estatístico para quantificar estimativas de mortalidade.

Subnotificação das mortes pela covid-19 no Brasil

A estimativa central da pesquisa é semelhante à da revista The Economist, em Londres, que chegou a cerca de 18 milhões de mortes em excesso até o final de 2021. Mas os dados apresentados pela publicação tinham um intervalo de incerteza de 95%, variando entre 12,6 milhões a 21,0 milhões, enquanto no estudo do IHME varia de 17,1 milhões a 19,6 milhões.

No Brasil, um dos países que realizou menos testes durante a pandemia em todo o mundo, a subnotificação é evidente. De acordo com o neurocientista Miguel Nicolelis, em participação no programa Soberania em Debate nesta semana, as mortes por pneumonia terminal e septicemia praticamente dobraram no início deste ano. Sua hipótese é de que esses índices encobriram mortes que deveriam ter sido registradas como decorrentes da covid-19.

“É muito difícil de calcular. Mas o excedente de mortalidade se aproxima de um milhão. Temos atualmente algo entre 800 mil e 1 milhão de mortes pela pandemia”, afirmou.


Leia também


Últimas notícias