Reforço

Sanitarista defende quarta dose da vacina, mas cobertura da terceira tem de melhorar

Para Gonzalo Vecina, é preciso antes completar o ciclo vacinal da população adulta. Ao menos 100 milhões de brasileiros ainda precisam tomar terceira dose

Pref Caruaru/Fotos Públicas
Pref Caruaru/Fotos Públicas
"O fato é que teremos que tomar, sem dúvida, a quarta dose, particularmente, os portadores de comorbidades e os idosos. Mas temos que melhorar a cobertura da terceira dose

São Paulo – A necessidade de aplicação da quarta dose da vacina contra a covid-19 é um fato, principalmente em idosos e pessoas imunossuprimidas. A avaliação é do médico sanitarista Gonzalo Vecina. No entanto, o Brasil ainda precisa melhorar a cobertura da terceira dose. Para o professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e ex-diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é preciso garantir o reforço da imunização a toda população antes de discutir a quarta dose. “É uma questão óbvia”, afirma Vecina em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (14),. 

Dados do Ministério da Saúde, divulgados no sábado (12), mostram que a aplicação da terceira dose tem sido bem lenta no país e que pelo menos 100 milhões de brasileiros ainda precisam tomar o reforço. Desse grupo, 10 milhões de pessoas perderam o prazo de buscar a terceira dose da vacina contra a covid-19. Segundo a pasta, ao todo, 146,3 milhões de brasileiros se imunizaram com as duas doses ou com dose única. Mas apenas 45,1 milhões voltaram aos postos de vacinação para receber a terceira dose.

Ainda assim, o estado do Mato Grosso do Sul, o município de Botucatu, em São Paulo, e Volta Redonda, no Rio de Janeiro, já começaram a aplicar a quarta dose em idosos com 60 anos ou mais nesta semana, segundo informações da CNN. O estado de São Paulo também anunciou na semana passada que irá aplicar a quarta dose em idosos a partir de 4 de abril. Além disso, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Acre já avaliam iniciar a aplicação da nova dose. 

Prioridade: completar o esquema

Na sexta-feira (11), contudo, o Ministério da Saúde decidiu que não irá recomendar a quarta dose. O ministro Marcelo Queiroga argumenta que não há embasamento científico sobre a dose adicional, que também já vem sendo garantida em países como Israel e Estados Unidos. O sanitarista Gonzalo Vecina concorda em garantir o esquema básico inicialmente. “Um momento de lucidez raríssima do Ministério da Saúde”, ironiza.

O professor explica que, apesar da eficácia das vacinas diminuir com o tempo, elas ainda oferecem proteção. Mas a atenção especial, neste momento, deve ser para a dose de reforço.

”O fato é que quatro meses após tomar a última dose, a produção de anticorpos cai. Quando a produção de anticorpos cai, isso é mais grave em quem tem mais chances de morrer. E quem tem mais chances de morrer são os velhos e portadores de comorbidades. Então, não há dúvida da necessidade da quarta dose para idosos, acima de 70 anos, e com mais certeza ainda acima de 80 anos, e pessoas com comorbidades. Porém, nós temos uma baixa cobertura de terceira dose, estamos com 20% a 25% de pessoas que tomaram a terceira dose. Ou seja, por que eu vou discutir a quarta, se eu não resolvi a terceira?”, ressalta Vecina. 

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) também vem recomendando a realização do esquema completo de vacinação – isto é, com as duas doses iniciais ou dose única, mais a terceira dose da vacina contra a covid. 

Confira a entrevista


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