ômicron e aglomerações

Fiocruz enfrenta falta de dados, mas identifica alto crescimento da covid-19 no Brasil

Alta nos casos e internações é alarmante. Enquanto isso, cientistas sequer conseguem analisar a pandemia devido a apagão na Saúde

Arquivo/EBC
Arquivo/EBC
O  enfrentamento de uma pandemia sem os dados básicos e fundamentais pode ser comparado a dirigir um carro em um nevoeiro, com pouca visibilidade e sem saber o que se pode encontrar adiante

São Paulo – O apagão nos dados da covid-19 no Brasil continua, pois o Ministério da Saúde, desde dezembro, não fornece condições para uma apuração confiável. Assim, enquanto o país passa por um aumento exponencial de casos, a ciência está às cegas. Diante deste cenário, até mesmo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) deixou de analisar o surto com precisão, como fez durante toda a pandemia.

“O enfrentamento de uma pandemia sem os dados básicos e fundamentais é comparável a dirigir um carro em um nevoeiro, com pouca visibilidade e sem saber o que se pode encontrar adiante. Além disso, vai na contramão de outros países, que passaram a produzir e disponibilizar dados de modo público e transparente para melhor compreender e enfrentar a dinâmica da covid-19”, informam os pesquisadores do Observatório Covid-19 da Fiocruz.

Covid em ascensão

Mais uma vez, o boletim extraordinário desta semana do Observatório vem com análises incompletas, pois leva em conta apenas o indicador de taxa de ocupação de leitos de UTI adulto no SUS. “O momento atual, que conta com a circulação e crescimento rápido de casos de uma nova variante, a ômicron, logo após as festas de fim de ano e maior circulação de pessoas, desenha um novo cenário epidemiológico”, ressalta a instituição.

E mesmo apesar dos dados precários, na comparação com dezembro do ano passado, os registros coletados até o dia 5 de janeiro mostram uma piora preocupante. No Tocantins, por exemplo, a ocupação de leitos passou de 23% para 62%. Nas capitais, chamam a atenção as taxas críticas observadas em Fortaleza (85%), Maceió (85%) e Goiânia (97%), e as taxas na zona de alerta intermediário observadas em Palmas (66%), Salvador (62%) e Belo Horizonte (73%).

Velocidade e pressão

O avanço da variante ômicron, mais contagiosa, contribui para a piora no cenário em todo o mundo. Mas a situação ainda tende a piorar. Isso porque os efeitos das festas de fim de ano ainda estão em movimento. Sem distanciamento social ou uso de máscaras, o vírus circula com intensidade. Desse modo, essa conduta vai negativamente a dinâmica da pandemia e a capacidade de enfrentamento, “com impactos sobre a saúde da população e o sistema de saúde”, avalia a Fiocruz.

A vacinação ajuda a evitar efeitos graves e mortes, mas menos mortes em um cenário de descontrole não significa que sejam poucas ou não causem dor. Soma-se a isso o fato de que as crianças não estão vacinadas. Al´m disso, a superlotação do sistema hospitalar dificulta o atendimento de outras doenças, algumas letais.

Ou seja, ainda que não provoque casos muito graves e fatais, a ômicron sobrecarregar o sistema de saúde, caso ele não esteja preparado para enfrentar este novo cenário. “Observaram-se pioras mais sensíveis em alguns estados da região Nordeste e Sudeste, com destaque para suas capitais. Os pesquisadores chamam atenção que em um cenário de rápida transmissão, com aumento abrupto de casos novos, a demanda pelo serviço de saúde pode se tornar um obstáculo ao diagnóstico rápido e tratamento oportuno”, completa a Fiocruz.

O que fazer?

Com a covid-19 em alta, especialistas recomendam fazer exames ao surgimento de um ou mais sintomas. Febre; tosse; cansaço excessivo; perda de paladar ou olfato; dor de garganta; de cabeça; dor no corpo; diarreia; irritação na pele ou nos olhos.

Também recomendam fazer o teste se a pessoa teve contato com alguém que confirmou diagnóstico de covid-19. Ao menor sinal de falta de ar, deve-se buscar rapidamente atendimento médico, de preferência em um hospital com boa estrutura.

No geral, são dois os modelos de testes possíveis. O RT-PCR e o de antígeno. O PCR é o considerado “padrão ouro” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ou seja, o mais confiável, indicado a partir do terceiro até o sétimo dia de sintomas. Mas o “problema” do PCR, no geral, é o preço elevado. Pode chegar a custar 400 reais em clínicas privadas.

O outro modelo mais comum disponível é o teste de antígeno, mais em conta, disponível em farmácias, e conhecido como teste rápido. Trata-se de um método menos assertivo, com menor sensibilidade.

Ainda existe a opção de “painel viral”, utilizado com cada vez mais frequência. Este modelo consegue sequenciar a presença de diferentes tipos de vírus, incluindo o H3N2, também em ação no Brasil com severidade.

Balanço

Mesmo com dados defasados, o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) divulga diariamente um balanço de casos de covid-19 e de mortes. Foram reportadas 181 mortes nesta sexta (7), totalizando 619.882 desde o início da pandemia. Também foram contabilizados 63.292 novas infecções. Mas o número é seguramente, defasado.

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conass


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