pesadelo

Cientistas mostram espanto e desmontam negacionismo de Bolsonaro e Queiroga

Governo Bolsonaro volta a promover a desinformação sobre vacinas. Negacionistas chamam variantes da covid de “presente de Deus”

lula marques
lula marques
"Não creio que estão literalmente defendendo que as pessoas devem se infectar, chamando ômicron de 'presente de Deus', como dão palco pra malucos assim?", desabafou cientista

São Paulo – “Prioridades do ministro da Saúde em 2022: Promover eugenia no lugar de vacinação infantil (…) Dois anos depois, entre 11 e 21 milhões de vidas perdidas para covid no mundo e o Ministério da Saúde dando palco pra quem defende imunidade de rebanho”, afirma o biólogo e divulgador científico Atila Iamarino. Ele repercutiu a persistência do negacionismo do governo Bolsonaro diante das vacinas contra a covid-19. Mesmo diante de fatos provados pela ciência ao longo da pandemia, o presidente e seu ministro Marcelo Queiroga dobram diariamente a aposta em rejeitar o óbvio.

Não olhe para a vacina

Hoje (4), o chefe da pasta tentou criticar o uso de vacinas em crianças. Para isso, citou um estudo que evidencia a eficácia e a segurança da imunização. No mesmo dia, o ministério promoveu uma audiência pública que contou com a presença de aliados antivacina. Novamente, os apoiadores do governo voltaram a defender a “imunidade de rebanho” pelo contágio. Afirmaram que a variante ômicron seria um “presente de Deus”, já que teoricamente apresenta sintomas mais brandos, o que “ajudaria” a mais pessoas se infectarem, sem tomar vacinas, e assim, criariam uma resposta imune. Do outro lado, cientistas serios seguem abismados. Alertam sobre o óbvio e são ignorados pelo grupo bolsonarista, à semelhança do filme Não Olhe para Cima, de Adam McKey, disponível no Netflix.

“Não creio que estão literalmente defendendo que as pessoas devem se infectar, chamando ômicron de ‘presente de Deus’. Como dão palco pra malucos assim?”, desabafou o cientista de dados do grupo InfoVid Marcelo Oliveira. Entre os defensores da tese durante a audiência, o deputado federal bolsonarista Osmar Terra. O parlamentar, desde o início da pandemia, promoveu desinformação sobre a doença. Disse que as mortes por covid-19 seriam inferiores à H1N1, que deixou pouco mais de 1.700 mortes em 2009. De acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), os mortos por covid-19 são, ao menos, 619.384. Sem contar ampla subnotificação.

Imunidade de rebanho

Desde julho de 2020 Osmar Terra propaga a ideia de imunidade de rebanho. Ele integrou o chamado “gabinete paralelo” do governo Bolsonaro. Diante da pandemia, o presidente reuniu um conjunto de negacionistas para atacar a ciência e dissminar mentiras sobre a covid-19. Mesmo com a realidade já registrada na história, eles não cansam. A covid-19 provocou a maior crise sanitária da história do país, que foi líder em mortes em todo o mundo em 2021.

Sequer a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão do governo, aceitou participar da audiência. “A Anvisa e as sociedades médicas e científicas já deram a avaliação unânime: vacinas aprovadas. São seguras e eficazes. Essa audiência é circo, distração enquanto enrolam para não vacinar as crianças”, explica Atila.

A realidade

O biólogo rebateu um dos argumentos dos negacionistas, de que a ômicron seria mais “leve”, portanto todos deveriam pegar sem se vacinar. “Quem está escapando das complicações com a ômicron no Reino Unido? Vacinados. Adultos não vacinados estão dominado as internações. E crianças sem vacina estão sendo mais hospitalizadas do que nunca”, disse, ao apresentar dados do país. “O que torna a Omicron mais “leve”, matando menos infectados do que antes, pode ser tb sua preferência por ‘garganta’ ao invés de pulmão. Mas em grande parte é a proteção das vacinas. Nos países com baixa vacinação, ela tem causado mais mortes em relação ao número de casos”, completou.

Na contramão

A neurocientista e coordenadora da Rede Análise Covid-19 Mellanie Fontes-Dutra também lamenta a posição do Ministério da Saúde. “Por que é um problema o Ministro da Saúde criticar vacinação em crianças? Porque já temos evidências, aprovação da Anvisa e de várias outras agências reguladoras, recomendação por diversas Sociedades Brasileiras, mesmo do Conass, para a vacinação em crianças (…) Gerar hesitação vacinal agora é ir na contramão da nossa saída da pandemia. Abrir audiências públicas, consultas públicas após toda a aprovação e recomendação por agências e sociedades competentes não faz sentido, é para isso que temos autoridades competentes pra isso”, defende.


Leia também


Últimas notícias