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Apagão de dados completa um mês, aumenta subnotificação e prejudica combate à nova onda

De acordo com o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, situação prejudica monitoramento do avanço da ômicron por parte do poder público e da comunidade científica

Leopoldo Silva/Agência Senado
Leopoldo Silva/Agência Senado
De acordo com o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, os especialistas que utilizam a plataforma para acompanhar a pandemia no Brasil estão "totalmente no escuro"

São Paulo – O apagão de dados do Ministério da Saúde completou um mês na última segunda-feira (10). O governo federal, que já tentou omitir informações sobre a pandemia em outros momentos, alega que o sistema sofreu um ataque cibernético em 10 de dezembro e promete reestabelecer o sistema até o dia 15 de janeiro. O problema deixou o Brasil incapaz de monitorar a gravidade do avanço da variante ômicron do coronavírus, considerada mais transmissível, além de observar o número de vacinados e outros dados referentes à saúde pública.

De acordo com o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, os especialistas que utilizam a plataforma para acompanhar a pandemia no Brasil estão “totalmente no escuro”. “Não temos dados básicos e também não temos os estratificados por faixa etária. Não é possível fazer o acompanhamento sobre os leitos. Se algum estado ou município depende do governo federal para notificar seus dados, não tem essa possibilidade”, lamentou, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.

O analista afirma ainda que a subnotificação no Brasil já era alta, antes mesmo do apagão de dados. Agora, com maior cobertura vacinal e mais casos com sintomas leves, muitas pessoas não fazem o teste e transmitem o vírus sem saber. Segundo Isaac, a situação não está tranquila como em outubro ou novembro e isso reflete diretamente no aumento de internações em hospitais e na fila de espera em prontos-socorros.

“Isso aconteceu na Europa e outros países. Primeiro, vem uma enxurrada de casos leves e, depois, o vírus chega aos vulneráveis e coloca pressão sobre os hospitais. Por conta disso precisamos dos dados para entender o tamanho da subnotificação, que já era grande e agora está pior”, acrescentou ele.

Vacinação

Outro problema com o apagão de dados é a falta de informação sobre a vacinação da população brasileira contra a covid-19. Schrarstzhaupt diz que, quando a plataforma parou, o índice de imunização com duas doses estavam em 62% da população total, mas só 10% com a de reforço.

“Será que o patamar de vacinação continuou crescendo ou estagnou? Se essa estagnação ficar nesse faixa percentual, não será suficiente para barrar a onda. Em Portugal, com quase 90% da população vacinada, a onda ocorreu, mas com poucos óbitos. Também tem a vacinação de crianças, que já deveria ter começado”, afirmou.

O especialista aponta que nenhum outro país com capacidade de monitoramento deixou por tanto tempo a população às cegas durante a pandemia. “Apesar do problema de dados aqui, nós conseguíamos entender a métrica e apontar o rumo da pandemia, eu mesmo antecipei a chegada de novas ondas”, lembra.

Em razão do apagão, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) não divulga o Boletim Infogripe há quatro semanas. Também não há dados por faixa etária sobre internações de pessoas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) desde o final de novembro. “Quando tivemos o alto número de casos de influenza e também de covid-19, e queríamos entender o que estava causando o problema, perdemos todos os dados. E isso não aconteceu em nenhum outro país. Só aqui tivemos um apagão em 2020, outro antes da segunda onda e, agora, chegamos ao terceiro”, finalizou.

Confira a íntegra da entrevista:

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