Reforço necessário

Ômicron: apenas duas doses podem ser insuficientes, diz Oxford

Novos estudos indicam que, sem dose de reforço, vacinas não produzem níveis adequados de anticorpos neutralizantes para conter a nova variante do coronavírus

Hélia Scheppa/SEI
Hélia Scheppa/SEI
Pesquisadores reforçam necessidade da terceira dose contra a nova cepa

São Paulo – Estudo realizado pela Universidade de Oxford, do Reino Unido, divulgado no início da semana, indica que duas doses da vacina Astrazeneca são insuficientes para conter a variante ômicron. O mesmo vale para a vacina produzida pela Pfizer/Biontech, corroborando outro estudo clínico realizado na África do Sul, além de um experimento laboratorial realizado pelos fabricantes que apontaram resultados equivalentes. Outros dois estudos preliminares realizados na China também indicam que duas doses da CoronaVac também são insuficientes para conter a nova cepa.

No caso do estudo britânico, os pesquisadores analisaram amostras de sangue de indivíduos que receberam duas doses das vacinas Oxford-AstraZeneca ou Pfizer-BioNTech. Os resultados indicam há uma “queda substancial” do nível de anticorpos neutralizantes contra a ômicron, em relação às variantes anteriores.

Além de aumentar o número de anticorpos neutralizantes, o sistema imunológico também reage a partir das chamadas células T. Os cientistas ainda estão estudando o comportamento dessas células em relação à nova variante. Os resultados devem ser apresentados na próxima semana.

Contudo, em função dessa queda registrada nos anticorpos, os pesquisadores da Universidade Oxford sugerem a adoção de uma dose de reforço para aumentar a proteção contra infecções pela nova cepa, cujo risco de contágio é maior, conforme pesquisas preliminares.

Os resultados da pesquisa britânica corroboram os de um estudo clínico realizado na África do Sul, que também indicou que duas doses da vacina da Pfizer/Biontech oferecem 70% de proteção contra hospitalização para pacientes contaminados pela ômicron. O índice é menor do que resistência de 93% conferida contra a variante delta. Da mesma maneira, a proteção contra infecções caiu para 33% contra a nova cepa, em relação aos 80% conferidos ante a variante anterior.

CoronaVac

Nesse sentido, outras duas pesquisas preliminares realizadas na China também revelaram que duas doses da CoronaVac induziram níveis “inadequados” de proteção contra a ômicron. Um deles, da Sinovac, fabricante do imunizante, indica que apenas 35% das pessoas que receberam duas doses da vacina produziram anticorpos suficientes para neutralizar a nova variante. Por outro lado, num grupo de 48 pessoas que tomaram também a terceira dose, essa proteção saltou para 94%.

A outra pesquisa, também de escopo reduzido, realizada pela Universidade de Hong Kong, trouxe resultados ainda mais preocupantes. Analisando um grupo de 25 pessoas que haviam recebido as duas doses da CoronaVac, nenhuma delas havia produzido anticorpos neutralizantes suficientes para conter a contaminação pela ômicron. Assim como o estudo britânico, os resultados dessas pesquisas também apontaram para a necessidade da aplicação de uma dose de reforço para produzir a proteção adequada.

Reino Unido: recorde de casos

Consequência do avanço da ômicron, o Reino Unido registrou recorde de novos casos de covid-19 nesta quarta-feira (15). De acordo com o secretário de Saúde britânico, Sajid Javid, a variante delta segue predominante, mas os casos da ômicron crescem aceleradamente. Nesse sentido, as autoridades temem enfrentar “duas epidemias” simultaneamente. Ao todo, foram 78.610 novos casos da doença nas últimas 24 horas no país, superando o recorde diário anterior era de 68.053 em 8 de janeiro. Naquele momento, o avanço da doença era atribuído à variante alfa do novo coronavírus.

“Nenhuma variante da covid-19 se espalhou tão rápido”, disse Javid ao parlamento. “Embora a ômicron represente mais de 20% dos casos na Inglaterra, já vimos aumentar para mais de 44% em Londres e esperamos que se torne a variante dominante na capital nas próximas 48 horas.”

De acordo com o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, a situação no Reino Unido serve de alerta para o Brasil. “Cientistas e médicos britânicos são categóricos ao afirmar que a ômicron representa um risco real ao sistema de saúde do país. Não podemos ignorar mais este alerta aqui no Brasil”, disse ele, pelas redes sociais. Além disso, ele afirmou que não é mais possível aceitar “comentários ou palpites” que buscam diminuir o risco dessa nova variante.

Covid no Brasil

Enquanto isso, O Brasil registrou nas últimas 24 horas 302 mortes pela covid-19. Quatro estados (Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul e Tocantins), no entanto, não enviaram dados, ainda em função da instabilidade no sistema do Ministério da Saúde desde o suposto ataque hacker, no final de semana.

Como os dois últimos dias registraram números defasados, ainda não é possível saber se houve aumento real de mortes. Ou ainda, se essa elevação em relação às últimas semanas – quando as mortes diárias registradas estavam na casa dos 200 – representaria um agravamento do quadro da doença no país.

Com esses números “embaralhados”, o total de óbitos confirmados chegou a 617.271 desde o início do surto da doença no país, em março de 2020. Além disso, em tais condições, foram confirmados 5.446 novos casos, no mesmo período, de acordo com Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Os casos totais registrados, ainda, em torno de de 22,2 milhões (22.210.225).

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conass


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