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‘Não vamos largar a luta’, afirma Renato Janine sobre ataques de Bolsonaro à ciência

Terceira Jornada de Mobilização em Defesa da Ciência reuniu dezenas de entidades para garantir orçamento devido pelo governo Bolsonaro para o setor

Marcha pela Ciência/divulgação
Marcha pela Ciência/divulgação
Movimento visa assegurar que no orçamento de 2022 sejam previstos recursos condizentes com as necessidades do setor

São Paulo – Entidades acadêmicas e movimentos da sociedade civil realizaram mobilizações em defesa da ciência brasileira, ameaçada por cortes do governo Bolsonaro. A chamada Terceira Jornada de Mobilização em Defesa da Ciência foi organizada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e coordenada pela Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br) e pela Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG). Sob a temática “Quanto vale a Ciência?”, dezenas de atividades discutiram o desmonte do setor.

“Nós não vamos largar esta luta. Não vamos desistir”, disse o presidente da SBPC, o professor Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação. “O movimento visa a assegurar que no orçamento de 2022 sejam previstos recursos condizentes com as necessidades do setor. As entidades também reivindicaram a liberação dos R$ 2,7 bilhões que ainda restam do Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), hoje a principal fonte de financiamento da pesquisa científica no país, e a recuperação dos R$ 600 milhões destinados à ciência, desviados para outras áreas pelo Ministério da Economia“, explica a entidade.

Em falta com a ciência

O secretário-executivo do ICPT.br, Celso Pansera, ressaltou a importância da pesquisa durante debate realizado ontem (23), via YouTube. Assim como as demais entidades que participaram das mobilizações, Pansera destacou que o impacto no orçamento é baixo em relação aos benefícios para o país. “O que nós estamos pedindo é uma recomposição em torno de R$ 6 bilhões, que é 0,02% do orçamento previsto pela União para o ano que vem, é 5% do espaço fiscal que está sendo criado pela PEC dos precatórios, é um terço do que vai ser destinado para as emendas parlamentares. Nós estamos pedindo muito pouco diante do que o setor precisa”, disse.

Além dos recursos para o ano que vem, Janine lembrou que o governo sequer cumpriu com o orçamento deste ano com o setor. “Isso mostra que a situação de financiamento da ciência, da pesquisa, do conhecimento no Brasil continua sendo dramática e nós estamos lutando contra isso, e vamos continuar lutando”, afirmou. O FNDTC ainda tem R$ 2,7 bilhões a receber, sem contar os R$ 600 milhões desviados pelo ministério de Paulo Guedes.

Perverso

Além do desmonte da ciência e tecnologia, o governo lidera um movimento de escassez e ataques às universidades federais. Trata-se de uma política “perversa”, nas palavras do vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reitor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Valder Steffen Junior. “Essa coincidência perversa está tendo e terá no futuro consequências muito ruins que nós precisamos recuperar rapidamente. Também precisamos ter recursos para o fomento. Sem fomento não há como fazer ciência neste país.”

A vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e presidente de honra da SBPC, Helena Nader, lembrou que o setor luta pela sobrevivência da pesquisa. Não se trata de aumento de verbas ou reajustes abusivos. “Não estamos pedindo aumento de salário. Estamos pedindo recursos para trabalhar e bolsas para nossos estudantes, que são inferiores ao salário mínimo em algumas situações”, disse.

Política da morte

O desmonte da ciência e da educação está no projeto bolsonarista, lembra Pansera. Um governo negacionista e autoritário, que conduziu a pandemia de covid-19 de forma desastrosa e é apontado como responsável direto por centenas de milhares de mortes evitáveis. “É um momento muito importante em que a sociedade reconhece cada vez mais o papel que as universidades têm tido, que os cientistas e os jovens pesquisadores no Brasil têm tido na garantia da saúde pública. E contraditoriamente é um momento em que resistimos ao desmonte.”

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