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Em vez de flexibilizações, fim de ano do Brasil deveria ser de conscientização, diz cientista

Proximidade das Festas preocupam pesquisadores. Média atual de mortes diárias é de 246. Em 2009, a H1N1 tinha média de 20 vítimas por dia

Alex Pazuello/Semcom
Alex Pazuello/Semcom
"Só vamos poder ter a segurança de que comemoraremos um carnaval mais seguro se, além da ampliação da vacinação, também tivermos reflexos claros na redução da transmissão", afirma cientista

São Paulo – O Brasil registrou nesta terça-feira (16) mais 132 mortes por covid-19 em um período de 24 horas. Também foram notificados 4.918 novas infecções. Desde o início da pandemia, em março de 2020, ao menos 611.478 pessoas morreram da doença no país e 21.965.684 ficaram doentes. Isso sem considerar ampla subnotificação, reconhecida até mesmo pelas negacionistas autoridades de saúde do governo Bolsonaro. Embora a média de mortes diárias seja inferior ao registrado durante os piores momentos do surto, que chegou a superar 3 mil em abril deste ano, os números atuais seguem elevados. Em comparação, a pandemia de H1N1, em 2009, registrava média de 20 mortes diárias.

A média de mortes diárias está inferior a 300 desde o início de novembro, 246 hoje. Porém, mesmo com o índice ainda em números elevados, estados e municípios avançam na flexibilização até mesmo do uso de máscaras em espaços abertos. Medidas consideradas precipitadas por cientistas.

Enquanto o poder público considera o coronavírus sob relativo controle no Brasil, em outros lugares do mundo uma quarta onda de infecções força países a retomar medidas rigorosas de isolamento social. E este avanço do vírus em outros países mantém aceso o alerta no Brasil.

Rigidez e covid-19

É o caso da Áustria que, ao lado da Alemanha, vem notificando números recordes de novos casos. O governo austríaco decretou “lockdown” para pessoas não vacinadas e também para infectados. Apesar do nome, porém, na prática, quem negou tomar vacina contra a covid-19 só pode sair de casa para comprar insumos básicos em supermercados e farmácias, além de estar autorizado a exercícios ao ar livre.

No Brasil, por outro lado, governadores e prefeitos que tentam emplacar obrigatoriedade do chamado “passaporte da vacina” encontram resistência do governo federal. Por sua vez, após todo o descaso com a compra de vacinas e também com a gestão da crise, o governo agora anuncia a redução do intervalo entre a segunda dose e a dose de reforço para adultos a partir de 18 anos.

Hoje, o Brasil ainda tem mais de 21 milhões de pessoas que não retornaram sequer para a segunda dose. Este ponto deveria ser a atenção no momento, argumenta o cientista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda. “Cobertura ampla de segunda dose é mais importante do que garantir a terceira. Ou seja, busca ativa e passaporte vacinal teriam mais impacto na redução de hospitalizações e óbitos que a terceira dose entre 18 e 59 anos”, afirma.

Fim do ano

O fim das medidas protetivas não farmacológicas junto com a proximidade das festas de fim de ano também desperta críticas. A neurocientista e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mellanie Fontes-Dutra lembra que “tem uma galera bastante feliz, e é super positivo, mas temos que entender que (a pandemia) ainda não acabou”. “Só vamos poder ter a segurança de que comemoraremos um carnaval mais seguro se, além da ampliação da vacinação, também tivermos reflexos claros na redução da transmissão”, acrescenta.

Ela reforça a necessidade de manter a precaução para os próximos meses. “Isso, de forma alguma, é jogar um balde d’água na alegria das pessoas, pelo contrário. Usemos isso como estímulo para fazer um baita final de ano de conscientização. Cuidado nas festividades para entrarmos em 2022 com uma segurança ainda maior, um controle ainda maior”, completa.


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