Precipitação perigosa

Máscaras deixam de ser obrigatórias no Rio. Cientistas questionam

Alerta é de que liberação pode acelerar retomada de casos e mortes. “Não acabou, ainda tem bastante coisa pra cuidar e pensar”

Tomaz Silva / ABr
Tomaz Silva / ABr
"Definitivamente, a vacinação, descolada de outras recomendações não farmacológicas, não será suficiente para determinar o fim da pandemia"

São Paulo – A partir de amanhã (28), o uso de máscaras deixará de ser obrigatório em lugares abertos do Rio de Janeiro. A decisão foi sancionada hoje pelo governador Claudio Castro (PL). Trata-se de mais uma medida precipitada de flexibilização, de acordo com cientistas. A covid não está sob controle no país, embora com indicadores positivos relacionados à vacinação. Contudo, a porcentagem de imunizados com duas doses segue insuficiente, cerca de 55%, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica ao menos 80%.

As médias de mortes e novos casos também encontram-se em uma tendência de estabilidade, mas em patamares ainda elevados. A queda nos indicadores cessou durante as últimas semanas, consequência direta do abandono das medidas protetivas como uso de máscaras e distanciamento. “Como estamos aumentando as oportunidades de transmissão, acabamos gerando muitas nuances a serem controladas. Em resumo: não acabou, ainda tem bastante coisa pra cuidar e pensar. E principalmente: ainda precisa de muita comunicação e muitas políticas públicas”, alerta o coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt.

Balanço da covid

Nas últimas 24 horas, o país registrou 433 vítimas do vírus, totalizando 606.679 óbitos desde o início do surto, em março de 2020. Também foram notificadas 17.184 novas infecções, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Sem levar em conta ampla subnotificação provocada, majoritariamente, pela ausência de políticas de controle do vírus, como testagem em massa, 21.766.168 pessoas foram infectadas no país.

covid brasil
Números da covid no Brasil. Fonte: Conass

Para Schrarstzhaupt, ainda há diversas questões sobre a covid no país que causam preocupação. Entre eles, o elevado número de atrasados da segunda dose, cerca de 20 milhões de pessoas. “E ainda temos faixas etárias sem vacina (crianças). Então, ao aumentarmos a quantidade de vírus na comunidade através desse aumento de oportunidade, aumentamos sua vulnerabilidade. Ainda temos uma parcela da população sem segunda dose, e também uma fração que não se vacinou. A velocidade de vacinação deu uma estagnada agora”, explicou.

Controle da covid

Para o controle do vírus e superação da pandemia, são necessárias ações conjuntas, afirma o cientista. “É possível atingir o controle via medidas físicas, afastando as pessoas umas das outras, principalmente em ambientes fechados, usando máscaras de ótima qualidade. Vimos países conseguirem quedas expressivas mesmo sem vacinas através de medidas assim”, lembra. Em paralelo, o avanço da vacinação. “Com vacinas que reduzem (mas não eliminam) a transmissão, e reduzem mais ainda agravamentos e óbitos, o vírus tem uma dificuldade tremenda de ‘fazer bagunça’ no corpo da pessoa devido à vacina. Menos hospitalizações e menos mortes.”

Schrarstzhaupt argumenta que se o país não unir as duas estratégias, “podemos manter uma quantidade alta de vírus na comunidade e contar com as vacinas para reduzir o número de hospitalizações e mortes. Isso causa números que podem ser inclusive os melhores até aqui na epidemia, mas ainda muito altos”. O pesquisador argumenta que o medidas não farmacológicas seguem necessárias, pois “quando o vírus infecta uma pessoa e essa pessoa toma medidas para não passá-lo adiante por ao menos 15 dias, o vírus ‘morre’ e não consegue seguir o caminho, quebrando um elo da cadeia”.


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