Desumano

Infectologista destaca a ‘banalidade do mal’ no caso Prevent Senior

Para o ex-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina, somente a sanha pelo lucro explica práticas adotadas pela operadora reveladas em depoimentos à CPI da Covid

Guilherme Gandolfi (@guifrodu)/Reprodução/TVT
Guilherme Gandolfi (@guifrodu)/Reprodução/TVT
Autonomia médica não pode virar licença para matar, ressaltou o médico

São Paulo – Ex-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina, professor da professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) se disse “indignado” diante das revelações trazidas pelo advogado Tadeu Frederico de Andrade, ex-paciente da Prevent Senior. “Trataram uma vida como se fosse lixo”, disse o médico infectologista. “O que vimos é de uma indignidade e uma desumanidade terríveis.”

Em depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira (7), o ex-paciente afirmou que, se não fosse a intervenção dos seus familiares, ele teria morrido. Ele relatou pressões para que fosse retirado da UTI, para ser submetido a cuidados paliativos. “Em poucos dias depois (se fosse transferido), eu estaria morto”, disse ele, emocionado.

Para convencer a família, os médicos da Prevent Senior teriam utilizado o prontuário médico de outro paciente, alegando que ele sofria de doenças graves, além de idade avançada, que tornariam inviável a sua sobrevivência. Para Vecina, é a “voragem por dinheiro” que explica esse tipo de ação.

Já o ex-médico da Prevent Senior Walter Correa de Souza Netto afirmou à Comissão que era obrigado a receitar o chamado kit covid, com medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença. Também alegou ter sido coagido a não usar máscara durante o atendimento aos pacientes.

Prevent Senior e a ‘banalidade do mal’

Vecina aludiu ao conceito de banalidade do mal, desenvolvido pela filósofa alemã, Hannah Arendt, nos livros Eichmann em Jerusalém e Origens do Totalitarismo (Companhia das Letras). Nas obras, ela analisa as condições que levaram cidadãos comuns a abrirem mão de princípios éticos e morais, ao se submeteram a ordem atrozes definidas pelos líderes da Alemanha Nazista, em especial em relação à perseguição aos judeus, que culminou no Holocausto.

“De repente, um médico bem formado que está tratando de pacientes graves, por ordem superior, fecha os olhos e não vê na sua frente uma vida humana que pode continuar pulsando. Toma a decisão de interromper essa trajetória de vida porque recebeu uma ordem. E ignora as consequências, que é a morte de um ser humano”, comparou o infectologista em entrevista a Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual.

Em nome do ‘diabo’

A CPI da Covid também anunciou nova convocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Ele deverá explicar o adiamento da reunião do Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde(Conitec) que analisaria parecer contrário ao “kit covid”. O ministro teria agido para não contrariar Bolsonaro.

“O que Queiroga está fazendo é se isolar cada vez mais, vendendo seu diploma para o diabo. E o diabo tem nome e endereço”, disse Vecina. Ele destacou que o ministro está “destruindo” sua carreira como médico. “A vida dele está sendo esmerilhada porque ele aceitou se subordinar a um ignorante genocida.”

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira


Leia também


Últimas notícias