No Amazonas

‘Escândalo’, diz infectologista sobre ‘estudo’ com proxalutamida

Dirceu Greco, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), também classificou como “intoleráveis” novas revelações dos bastidores da Prevent Senior

Reprodução/Fiocruz
Reprodução/Fiocruz
comitê de acompanhamento da pesquisa era coordenado por pessoas ligadas aos patrocinadores do estudo

São Paulo – O médico infectologista Dirceu Greco, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), classificou como mais um “escândalo” as denúncias de possíveis irregularidades em um estudo realizado com a substância proxalutamida em pacientes com covid-19 no Amazonas. O estudo clínico no Amazonas foi realizado, sob a liderança do endocrinologista Flávio Cadegiani e patrocinado pela rede de hospitais privada Samel. Após indícios de irregularidades no experimento realizado com a droga – que é aplicada em alguns tratamentos contra o câncer – 200 pacientes morreram.

O mais grave, segundo o infectologista, é que o comitê de acompanhamento da pesquisa era coordenado por pessoas ligadas aos patrocinadores desse estudo. “Quer dizer, trata-se de um conflito de interesse absurdo. Não podia ser dessa maneira de modo algum”, disse Greco, em entrevista a Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (13).

A Comissão Nacional de Ética do Conselho Nacional de Saúde (Conep) enviou pedido à Procuradoria Geral da República (PGR) para que investigue os óbitos decorrentes do experimento com a proxalutamida . Além disso, a Rede Latino-americana e Caribenha de Bioética (Redbioética-Unesco) disse que esse pode ser um dos mais graves casos de infração à ética em pesquisa e de violação dos direitos humanos na história da América Latina.

Prevent Senior

Além da indignação caudada pelos testes com a proxalutamida em pacientes com covid, Greco também classificou como “intoleráveis” e “injustificáveis” as novas declarações reveladas pela advogada de médicos da Prevent Senior. Em entrevista ao portal Uol nesta segunda-feira (11), Bruna Morato deu mais detalhes sobre os bastidores da operadora. “Já viveu o suficiente” e “não vale a pena investir” foram algumas das frases a ela relatadas pelos médicos. Segundo a advogada, eram justificativas usadas para evitar a intubação de pacientes com covid-19. “A família nunca vai descobrir”, foi outra expressão relatada.

Segundo o infectologista, no caso da Prevent Senior, houve um “abuso” das técnicas de medicina paliativa, que server para reduzir o sofrimento em pacientes terminais. Além disso, a operadora apostou no chamado “kit covid” como forma de evitar a internação dos pacientes. O agravante, segundo ele, é que tais práticas não parecem ser exclusividade da Prevent Senior.

“Cada vez mais começam a aparecer situações semelhantes em outros locais, mostrando essa estupidez, essa incapacidade, essa mercantilização da vida alheia”, disse Greco, em entrevista a Marilu Cabãnas, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (13).

Por outro lado, o infectologista disse que “está na hora de nos revoltarmos”. E cobrou a atuação dos órgãos de investigação e controle, como o Ministério Público, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS). Sobre o Conselho Federal de Medicina (CFM), Greco disse sentir “vergonha alheia” em função da atuação “conivente” da atual direção.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira


Leia também


Últimas notícias