Ética médica

Prevent Senior: ‘Saúde não pode ser mercadoria’, diz sanitarista

“Essas pessoas estão mostrando para o Brasil como é grave transformar a medicina num negócio”, afirmou a presidenta da Cebes, Lucia Souto,

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Kit Covid da Prevent Senior: Práticas da operadora têm de ser investigadas mais a fundo

São Paulo – De acordo com a médica sanitarista Lucia Souto, presidenta do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), as práticas adotadas pela Prevent Senior, relatadas em depoimento à CPI da Covid pela advogada Bruna Morato nesta terça-feira (28), revelam que “a saúde não pode ser mercadoria”. A Cebes e outras entidades médicas e científicas assinaram nota de repúdio condenando a falta de ética em prescrições de medicamentos e a realização de pesquisa sem aprovação, além da quebra de sigilo de dados de pacientes e a manipulação de atestados de óbito.

Lucia comparou esses fatos ao caso ocorrido na década de 1990 envolvendo a clínica Santa Genoveva, no Rio de Janeiro. Em pouco mais de dois meses, o estabelecimento registrou a morte de 102 idosos. Desidratados e subnutridos, os pacientes eram “dopados” com uma combinação de medicamentos.

“A história se repete agora com a Prevent Senior”, afirmou a sanitarista, em entrevista a Marilu Cabañas, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (29). “Não podemos deixar esse tipo de experimento nazista que ocorreu ser uma regra banalizada ou tolerada. As pessoas têm direito a um atendimento de qualidade. As famílias têm o direito de receber informações”, acrescentou.

Lucia se disse ainda “chocada” com a frase “óbito também é alta”, que a advogada disse ter ouvido sobre a utilização do chamado “kit covid”, utilizado para tentar evitar a internação de pacientes ou abreviar o procedimento. “Essas pessoas estão mostrando para o Brasil como é grave transformar a medicina num negócio”, ressaltou a sanitarista.

Caso Prevent Senior e responsabilidades

Além de punições à própria Prevent Senior, a médica sanitarista criticou o Conselho Federal de Medicina (CFM), que respaldou a utilização do “kit covid” em nome de uma suposta “autonomia” dos médicos. “A autonomia do médico é para fazer o bem ao paciente”, disse Lucia, citando o juramento de Hipócrates. “O médico, no entanto, jamais para prescrever medicamentos não autorizados, conduzindo os pacientes à morte.”

Em outras palavras, a direção do CFM não tem mais condições de permanecer à frente da entidade, segundo ela. “Não é possível ter um Conselho que apregoa contra a ciência, sustentando deliberadamente esse tipo de prática. Há um movimento já em curso para que a direção renuncie. Eles não estão à altura de representar a categoria. O CFM extrapolou todos esses limites”, afirmou.

Também cobrou ação efetiva da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), defendendo inclusive uma intervenção na Prevent Senior. “A ANS precisa intervir e achar uma saída. Está tudo legalmente previsto. Não tem nada de extraordinário exigir que a ANS se posicione de maneira rápida e efetiva, para assegurar os direitos do contratados desse plano.” Além disso, segundo a especialista, também houve negligência por parte das secretárias municipal e estadual de Saúde em São Paulo.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira


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