País descuidado

Variante delta avança e casos de covid-19 voltarão a aumentar, diz Fiocruz

Entidade avalia que o país “baixou a guarda” antes do tempo. Avanço da variante delta já assusta o Rio de Janeiro, que está com 94% das UTIs ocupadas

Alex Pazuello/Semcom
Alex Pazuello/Semcom
Letalidade da covid no Brasil segue entre as mais preocupantes do mundo, em torno de 3%. Em alguns estados a situação é pior, como Roraima, com 14,3%; São Paulo, com 9,7%; e Rio de Janeiro, com 6,8%

São Paulo – A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alerta que, enquanto o avanço da vacinação reduz as mortes, o relaxamento das medidas de distanciamento social e a retomada de praticamente todas as atividades econômicas e das aulas presenciais fazem a variante delta do novo coronavírus ganhar força e se espalhar pelo território nacional. Com isso, diz a instituição, a semana que se encerra neste sábado (7) marca o fim da atual tendência de queda nos casos de covid-19 no país, após pouco mais de um mês de recuos. “O país baixou a guarda sem chegar a um patamar seguro”, argumenta o responsável pelo boletim Infogripe da entidade, Marcelo Gomes.

Mais contagiosa e resistente às vacinas, sobretudo às primeiras doses, a cepa identificada pela primeira vez na Índia começa a ganhar velocidade no Brasil. Até então, a variante dominante era a gamma, ou P1. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que nas próximas semanas a delta será a variante do novo coronavírus com maior prevalência no Brasil.

“O elevado patamar de risco de transmissão do vírus Sars-CoV-2 pode ser agravado pela maior transmissibilidade da variante Delta, em paralelo ao lento avanço da imunização entre os grupos mais jovens e mais expostos, combinado com maior circulação de pessoas pelo retorno das atividades de trabalho e educação. Nesse sentido, é importante refutar a ideia de que a vacinação protege integralmente as pessoas de serem infectadas e transmitir o vírus, o que pode se tornar um risco adicional com a nova variante de preocupação Delta”, alerta a Fiocruz.

Riscos

O Brasil registrou hoje (6) mais 1.056 mortos por covid-19 num período de 24 horas. Com o acréscimo, o país chega a 561.762 vítimas do vírus desde o início da pandemia, em março de 2020. O último período teve notificação de 42.159 novos casos, totalizando 20.108.746 infectados, também desde março do ano passado. As informações são do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conass

Até o momento, o estado com maior número de casos registrados da variante delta é o Rio de Janeiro. Mais de 50% dos infectados pela delta identificados no país estão na região fluminense. Este fato pode ser responsável pelo aumento significativo nas internações de pessoas mais idosas e também dos mais jovens, que ainda não foram vacinados, naquele estado. Até o momento, apenas 21,57% dos brasileiros estão imunizados com duas doses das vacinas Pfizer, CoronaVac e AstraZeneca, ou com dose única da Janssen. A primeira dose foi aplicada em 52,69% da população.

Situação das UTIs

A taxa de ocupação dos leitos de UTI para adultos segue melhorando. Entretanto, os números são preocupantes em muitas das capitais. Destaque negativo, novamente, para o Rio de Janeiro, conforme o Infogripe. Duas capitais estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 superiores a 80%: Rio de Janeiro (94%) e Goiânia (94%).

Oito capitais estão na zona de alerta intermediário: São Luís (69%), Fortaleza (65%), Belo Horizonte (60%), Curitiba (67%), Porto Alegre (66%), Campo Grande (74%), Cuiabá (74%) e Brasília (61%).

Outras 16 capitais estão fora da zona de alerta: Porto Velho (40%), Rio Branco (26%), Manaus (59%), Boa Vista (58%), Belém (49%), Macapá (33%) e Palmas (49%), nas regiões Centro-Oeste e Norte. Teresina (50%), Natal (39%), João Pessoa (23%), Recife (34%), Maceió (21%), Aracaju (46%) eSalvador (44%), no Nordeste. Vitória (46%), São Paulo (45%) e Florianópolis (36%), no Sudeste e Sul.

Manifesto

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou hoje uma carta manifesto sobre a crise sanitária que abate o Brasil. O documento foi endereçado para parlamentares que compõem a CPI da Covid. Os cientistas criticam a má condução da pandemia pelo governo Jair Bolsonaro. Desde o início da pandemia, Bolsonaro negou a ciência, minimizou a doença, ridicularizou mortes, promoveu e incentivou aglomerações. Além disso, possivelmente prevaricou na compra de vacinas e divulgou uma série de mentiras sobre a segurança dos imunizantes e das máscaras. Mais ainda, a compra de vacinas tardia está envolta em uma série de escândalos de corrupção.

“Em um contexto de afronta à dignidade humana, no qual a proteção social da população não foi garantida, em que se morre de fome ou de covid-19, a sociedade civil organizada é quem tem canalizado as ações populares de solidariedade: quem tem fome, tem pressa”, afirmam os cientistas. “O País ainda é hoje o epicentro da pandemia da COVID-19 na América Latina (…) Apesar da tendência de queda, ainda temos uma alta taxa de transmissão da doença, o terceiro maior número de casos no mundo e a maior taxa diária de mortes, mesmo sem considerar a subnotificação. Além disso, alertam-se os riscos da variante Delta já em circulação no país, comprovadamente mais transmissível e potencialmente mais grave”, completam.

Por fim, a SBPC argumenta que “é imprescindível e urgente ampliar a aquisição das vacinas, fortalecer as campanhas de vacinação, além das demais medidas não-farmacológicas: uso de máscaras, restrição de circulação e mobilidade, oferecendo as condições concretas para dar à população o direito ao exercício do isolamento/distanciamento social, garantindo sua proteção e segurança, com auxílio emergencial digno. O Ministério da Saúde não tem investido na necessária testagem em massa da população como medida de vigilância e detecção de casos e contactantes”.


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