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Sem vacinas, Brasil estaria próximo a 1 milhão de mortos, afirma cientista

Vacinas seguem apresentando bons resultados no Brasil, apesar de avanço lento e ameaça da variante delta, que já deixa o Rio em nova situação difícil

myke sena/ms
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"Cada vez que alguém coloca em dúvida a eficácia das vacinas, diga que não fosse a campanha de vacinação, o Brasil já teria chegado a terrível marca de 1 milhão de mortes", afirma o epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) Pedro Curi Hallal

São Paulo – Levantamento realizado por pesquisadores independentes, aponta para os benefícios inequívocos das vacinas contra a covid no Brasil. Os resultados apontam que, com a vacinação, foram evitadas 24.364 internações e 10.964 mortes, entre janeiro e maio deste ano. Além de uma economia de recursos da ordem de 297 milhões de dólares em custos hospitalares. Para o estudo, foram utilizados dados recebidos de todo o país. “Nesse período, antes mesmo da vacinação decolar, muitos haviam recebido apenas uma dose (especialmente da AstraZeneca), de modo que o efeito da imunização não estava no seu maior potencial”, explica Rafael Izbicki, professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), que integrou a pesquisa.

Na atualidade, o avanço da vacinação segue produzindo resultados incontestáveis no sentido de reduzir sintomas graves e óbitos provocados pelo novo coronavírus. Hoje (30), por exemplo, o Brasil registrou oficialmente 266 mortes e 10.466 novos casos por covid-19, totalizando 579.574 vítimas e 20.752.281 infectados desde o início da pandemia, em março de 2020. Às segundas-feiras os números tendem a ser menores que nos demais dias da semana, já que refletem as notificações colhidas nos fins de semana, quando há menos profissionais de medicina diagnóstica em atividade.

Contudo, fato é que os indicadores da última semana reforçam a eficiência das vacinas em um cenário real de descontrole do contágio, como é o caso brasileiro. Foram 4.801 mortes em sete dias, o número mais baixo desde a semana entre os dias 20 e 27 de dezembro do ano passado. “Cada vez que alguém coloca em dúvida a eficácia das vacinas, diga que se não fosse a campanha de vacinação, o Brasil já teria chegado à terrível marca de 1 milhão de mortes”, afirma o epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Pedro Curi Hallal.

Por sua vez, o microbiologista e imunologista Alison Chaves argumenta que “com o amplo emprego da vacinação contra covid-19 é possível sim vislumbrar um cenário de controle da doença. Além disso, parece haver correlação inversa entre cobertura vacinal e frequência de aparecimento de novas variantes”. Ele lembra que a humanidade já controlou outras doenças com o uso em larga escala de vacinas (veja gráfico abaixo).

Resultados da vacinação contra sarampo nos Estados Unidos. A risca representa o ano em que começaram a imunização. Quanto mais azul claro, menor o número de casos. Fonte: Wall Street Journal

O risco Delta

Os dados positivos trazidos pelas vacinas contra a covid no Brasil, entretanto, estão ameaçados no curto prazo pela presença da variante delta do coronavírus. Alguns estados já apresentam tendência de recuo nos avanços promovidos pela vacina. O cenário preocupa, já que apenas 29,76% dos brasileiros estão imunizados com duas doses de alguma vacina ou com a vacina de dose única. Receberam uma primeira dose, 66,46% da população. Como a variante delta tem poder para circular mesmo entre vacinados, especialistas alertam –diariamente – que é necessário conter a circulação do vírus, o que se faz mantendo as medidas de distanciamento social, uso constante de máscaras apropriadas e higienização das mãos.

Entre os casos que mais despertam a preocupação dos epidemiologistas do país está o Rio de Janeiro. O estado vive uma nova curva ascendente da covid-19 em razão do avanço da variante delta. Na capital, entre os dias 15 e 29 de agosto, a média móvel de mortes subiu 47%, de acordo com o Painel Rio Covid-19, publicado pela prefeitura. Em todo o estado, 12 cidades estão em situação de colapso hospitalar por falta de leitos de UTI, com taxas de ocupação acima de 90%. Entre elas a capital, com 96% e filas de ambulâncias em hospitais de referência. Na média geral, o estado aponta 73% de UTIs lotadas, com tendência de piora. A letalidade da covid entre os fluminenses segue das mais altas do país, em 5,53%.

Rio em perigo

Algumas cidades fluminenses começam a adotar medidas mais rígidas de isolamento social. Paraíba do Sul, por exemplo, suspendeu as aulas presenciais no município por 15 dias. “As principais alterações do novo decreto são a suspensão das aulas presenciais nas escolas da rede pública municipal e estadual, instituições de ensino da rede privada e cursos livres até o dia 10 de setembro, e a suspensão das atividades coletivas em parques, quadras e jardins municipais, além de eventos esportivos, shows, feiras, eventos científicos, passeatas, em locais abertos ou fechados”, informou a prefeitura.

O governo do estado reconhece que o quadro se agrava dia após dia. Em boletim da Secretaria de Saúde divulgado na sexta-feira (27), a pasta indica que “após seis semanas em bandeira amarela, estado volta à bandeira laranja em função do aumento no número de casos”. A região metropolitana, onde está a capital, e o nordeste estão com o pior cenário com risco “vermelho” ou “alto”. “Os resultados apurados para os indicadores apresentados devem auxiliar a tomada de decisão, além de informar a necessidade de adoção de medidas restritivas, conforme o nível de risco de cada localidade”, completa a secretaria.


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