Variante Delta

Enquanto o mundo avança em testes de covid, Brasil patina sem um plano

Realização de testes é fundamental para enfrentar a variante Delta. “Infelizmente é um tema que o Ministério da Saúde nem fala mais, como se outras medidas sanitárias não fossem necessárias”, contesta o epidemiologista Pedro Hallal

SESI/Vinicius Magalhaes
SESI/Vinicius Magalhaes
O governo de Jair Bolsonaro é cobrado por um plano nacional de testagem em massa também pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Segundo o órgão, não há "nenhuma estratégia de distribuição"

São Paulo – Principal fator de risco que pode novamente mergulhar o Brasil em uma nova onda de casos de covid-19, a variante delta do coronavírus, que já circula pelo país, pode ser também a nova cepa dominante. Mas o Brasil ainda não tem dimensão do problema, porque não tem testes de covid em nível nacional. A avaliação é do epidemiologista Pedro Hallal, professor na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que alerta quanto ao risco de que a delta tenha se tornando ainda mais predominante do que a variante gama, também chamada de P.1. 

Nesta semana, o governo do Rio de Janeiro confirmou a identificação de 203 casos de covid em decorrência da variante delta em amostras coletadas. O resultado embasou um pedido de carga suplementar de vacinas ao Ministério da Saúde para tentar conter a variante. Em carta, o Fórum Nacional de Governadores declarou querer evitar “uma catástrofe de proporções ainda mais graves em futuro próximo”.

“Esse é um problema que venho alertando desde o começo da pandemia, um país que não testa ele acaba ficando sabendo das coisas por último. E aí quando a gente detecta os casos da delta é porque ela já está amplamente disseminada”, observa o epidemiologista em entrevista à Marilu Cabañas na edição desta sexta-feira (6) do Jornal Brasil Atual. Hallal compara a atuação do Brasil com outros países nos quais a variante delta também está se disseminando. Entre eles, China, Austrália e Vietnã, exemplos no combate à pandemia, e que novamente estão adotando o lockdown em função do contágio pela nova cepa. 

Saúde não fala mais de testagem

“Eles, ao invés de lidar com uma estratégia de conviver com o vírus, lidam com uma estratégia de lutar contra o vírus e impedir que ele aconteça. Algo muito mais inteligente e bem elaborado”. O epidemiologista cita o caso da cidade chinesa Wuhan, onde as primeiros infecções pelo coronavírus foram registradas. Após sete casos da doença confirmados, o governo municipal anunciou na terça (3) que fará testes de covid em toda a sua população de 11 milhões de habitantes. 

“Quem leva a testagem a sério colhe bons resultados. A gente diz isso desde o primeiro dia da pandemia e infelizmente é um tema que não se fala mais. O ministério da Saúde nem fala mais sobre testes de covid. O ministro (Marcelo Queiroga) viu que a única coisa que ele conseguiu implementar foi a vacinação, então, ele só fala da vacinação, como se as outras medidas sanitárias não fossem necessárias”, critica. 

Além de autoridades sanitárias, o governo de Jair Bolsonaro é cobrado por um plano nacional de testagem em massa também pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Desde abril o órgão aponta que a gestão federal “não tem nenhuma estratégia para distribuição de testes a estados e municípios”.

A realidade das flexibilizações

A falta de controle ainda se agrava em meio ao contexto de flexibilização das restrições já anunciadas em alguns estados. O governo de São Paulo divulgou nesta semana, por exemplo, que a partir de 17 de agosto estarão liberados eventos sociais e feiras corporativas, desde que ocorra controle de público, protocolos de saúde e higiene sejam seguidos e não tenha aglomerações. 

“Mas o problema é aquela brincadeirinha que todo mundo faz nas redes sociais, de expectativa e realidade”, adverte Hallal. “Infelizmente a experiência mostra que muitas vezes a realidade é muito diferente da expectativa especialmente no caso dessas aglomerações. No Rio Grande do Sul, vemos também uma mudança nos protocolos com maior protagonismo dos prefeitos. E a expectativa era que, como os prefeitos estão mais próximos dos problemas, eles serão mais ágeis em impor restrições quando necessário. A realidade é  que os prefeitos estão mais próximos das pessoas que os pressionam para abrir cada vez mais. Então expectativa é realidade é um problema nessa questão das flexibilizações e restrições”, finaliza o epidemiologista e professor. 

Confira a entrevista 

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima


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