Mutações do vírus

Variante Lambda se espalha na América do Sul. Brasil confirma três casos e uma morte

Segundo infectologista, número de contaminações no país pode ser ainda maior. Presente em pelo menos 29 países, cepa tem mutações relacionadas ao aumento da transmissibilidade

Rodrigo Neves/Divulgação
Rodrigo Neves/Divulgação
De acordo com a OMS, cepa está associada a "taxas substanciais de transmissão comunitária em vários países da região"

São Paulo – Até esta terça-feira (6), o Brasil já havia confirmado três casos, com uma morte, relacionados à variante Lambda (C.37) do coronavírus. Mas, de acordo com o infectologista Alexandre Zavascki, do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, o número de infecções por essa cepa pode ser ainda maior. Dois dos casos foram detectados em São Paulo e o terceiro, que resultou em óbito, ocorreu no Rio Grande do Sul. O governo gaúcho aponta que a mutação pode ter vindo da Argentina, onde a variante é apontada como responsável por 37% das infecções confirmadas de fevereiro a abril.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o infectologista não descartou a hipótese. Encontrada pela primeira vez no Peru, em agosto de 2020, a variante Lambda vem se espalhando principalmente pela América Latina. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cepa está associada a “taxas substanciais de transmissão comunitária em vários países da região”. Ao todo, pelo menos 29 nações, sete delas no continente latino-americano.

O pesquisador destaca que identificação de novas cepas entre brasileiros também é subnotificada, já que o poder público pouco investe em estudos de sequenciamento.

“Não estou dizendo que se expandiu, mas quando quase casualmente detectamos a C.37, é possível, considerando que nas nossas fronteiras há grande entrada de pessoas vindo dessas regiões, que já tenhamos em algum grau mais casos do que esses já reportados”, analisou Zavascki. 

Casos acelerados, vacinação lenta

Uma reportagem da BBC News Brasil, de 17 de junho, sobre a presença da variante Lambda na América Latina, indicava que, àquela altura, a mutação estava circulando com taxas semelhantes às das cepas gama brasileira (33%) – a P.1, identificada primeiramente em Manaus – e bem acima da alfa britânica (4%), a B.1.1.7. No Chile, onde há uma alta nos casos de covid-19, a variante também já correspondia a 32% dos casos sequenciados notificados nos últimos 60 dias. 

Desde junho, a OMS classifica a cepa como “variante de interesse”, ou VOI, na sigla em inglês. Nesta categoria, há ainda mais seis mutações da Sars-Cov-2 em estudo para que a transmissão comunitária seja confirmada. A organização já identifica que a variante Lambda é caracterizada por oito mutações com possíveis “implicações fenotípicas”. De acordo com o infectologista, essas mutações seriam “incomuns” com algumas delas localizadas em “sítios alvos dos anticorpos”. O que abre a possibilidade para uma diminuição da afinidade com as vacinas, segundo o jornal. O prognóstico, contudo, ainda demanda maiores estudos para levantar também o impacto e o alcance da variante Lambda. 

A situação preocupa a OMS e os cientistas por conta das dificuldades que a região latino-americana vem enfrentando para superar a pandemia. Acumulando mais de 1 milhão de mortos pela covid-19, o continente, que abriga apenas 8% da população mundial, vem sendo responsável por 20% dos casos globais do novo coronavírus. Na última quarta-feira (30), como destaca a reportagem, a diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Carissa Etienne, lamentou “que o fim (da pandemia) continua sendo um futuro distante” para a população local, que vê acelerar os contágios, em contraposição ao ritmo lento de vacinação em muitos países da região.

Estratégias em xeque no Brasil

“Apesar deste quadro preocupante, apenas um em cada 10 na América Latina e no Caribe foi totalmente vacinado contra a covid-19. Uma situação inaceitável”, contestou a diretora da Opas. No Brasil, por exemplo, com a chegada da variante Lambda e, principalmente, da transmissão da Delta – a mutação indiana (B.1.617), classificada como de “preocupação” pela OMS –, epidemiologistas já divergem sobre a estratégia adotada por alguns governos, como o de São Paulo, de acelerar a aplicação da primeira dose da vacina contra a doença do novo coronavírus. 

Na falta de imunizantes, a medida visava garantir ao menos uma proteção parcial da população. A ideia era também equilibrar o número de doses para a oferta da segunda aplicação. No entanto, especialistas agora debatem diminuir este intervalo e aplicar a segunda dose da vacina ainda mais cedo. 

Redação: Clara Assunção


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