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Casos de variante delta no Brasil são ‘estrondosamente maiores’ que registros oficiais, diz infectologista

“Não fizemos nada para tentar deter a variante delta ou diminuir a velocidade de espalhamento”, afirma Gonçalo Vecina, ex-presidente da Anvisa

Alejandra De Lucca V. / Minsal
Alejandra De Lucca V. / Minsal
Em todo o estado de SP, a média de novas internações de pacientes com a doença, por dia, passou de 273, no dia 8 de dezembro, para 389, nesta quarta-feira (22)

São Paulo – Os números de casos e mortes pela covid-19 estão arrefecendo no Brasil, graças ao avanço da vacinação. Contudo, o médico infectologista Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), alerta que a disseminação da variante delta – originada na Índia –, pode causar um recrudescimento da pandemia. De acordo com o especialista, não estão sendo tomadas as medidas necessárias para conter essa nova variante, que é mais transmissível. Ao contrário, as medidas restritivas estão sendo flexibilizadas na maior parte do país, criando oportunidades que facilitam o contágio.

“O que podemos dizer hoje, para fazer uma comparação inteligível, é que estamos num dia claro de sol, mas no horizonte tem nuvens negras bem carregadas. E dá para vê-las a distância”, disse Vecina, em entrevista a Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (21).

Em todo o Brasil, já são mais de 100 casos registrados da variante delta, e diversos municípios já registram a sua transmissão comunitária. O Rio de Janeiro lidera, com 26 casos registrados até o momento. Mas, segundo Vecina, os números reais provavelmente são “estrondosamente maiores”. Isso porque, além do reduzido número de testes para diagnosticar a doença, o sequenciamento genético realizado nessas amostras, que é o que permite identificar a variante do vírus, é ainda menor.

“Só para se ter uma ideia de volume, até um mês atrás, o Brasil tinha feito cerca de 3 mil sequenciamentos, desde o início da pandemia. Nesse mesmo período, a Inglaterra, o país que mais sequenciou, fez 300 mil sequenciamentos”, destacou o infectologista.

Além disso, apesar da queda da pandemia no Brasil registrada nas últimas semanas, a média móvel de mortos ainda é está acima de mil óbitos diários. São números equivalentes ao pico da primeira onda, ocorrida em meados do ano passado. Portanto, ainda são dados “preocupantes”, segundo Vecina.

Disseminação da variante delta

Segundo Vecina, cada contaminado com a variante delta tem o potencial de infectar de quatro a seis pessoas. Para as outras variantes, o contaminado espalha a doença para até três pessoas, em média. “A sua capacidade de espalhamento é muito, muito, grande. A tendência é que venha a ocupar todo o espaço hoje ocupado pela variante gama, aquela surgida em Manaus. Significa que muita gente vai ter a doença aqui no Brasil.”

Ainda não há indícios de que essa variante produza casos mais graves da doença. As internações ocorrem principalmente entre aqueles que não foram imunizados ou tomaram apenas uma dose da vacina. Até mesmo na Europa, apesar de boa parte da população já imunizada, a variante delta segue se alastrando. No Brasil, apenas 16,49% da população já foi completamente imunizada.

Escolas

O infectologista também reagiu ao pronunciamento do ministro da Educação, Milton Ribeiro, nesta terça-feira (20), que instou o retorno das das aulas presenciais nas escolas. Para tanto, segundo Vecina, é necessário garantir a imunização completa dos professores e demais profissionais da educação.

Ele também afirmou que as aulas só devem ser retomadas em unidades com boas condições de ventilação. Ainda assim, com redução na capacidade, para manter o distanciamento entre os alunos. Para ele, a preocupação não é tão grande com as crianças e adolescentes, que raramente desenvolvem casos graves da doença. Mas estes podem servir de vetores para os adultos, colocando em risco seus familiares e os profissionais da Educação.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira


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