Risco sem fim

No Brasil, vacinas salvaram mais de 60 mil vidas. Mas variantes põem mundo em alerta

Avanço da imunização no Brasil leva mortes e contágios à queda. Entretanto, ritmo lento na vacinação e avanço de cepa mais agressiva acendem alerta

Rovena Rosa / ABr
Rovena Rosa / ABr
Surto de covid-19, em ritmo de queda no Brasil, ameaça com variante mais contagiosa. Europa vê infectados subir e Ásia impõe medidas de isolamento

São Paulo – Com o registro de mais 745 mortes pela covid-19 no Brasil, nas últimas 24 horas, o total de vidas perdidas para o coronavírus desde o início da pandemia, em março de 2020, chegou a 534.223. Em relação ao número de novos infectados, os 17.031 registrados no último período levam a 19.106.971 os casos de covid-19 acumulados no país. Os números às segundas-feiras tendem a ser inferiores à realidade, devido a um represamento nos dados que acontece em finais de semana. O Brasil já aplicou duas doses de vacinas em apenas 15% da população, o que torna a situação ainda preocupante, apesar da aparente queda nos números negativos.

Embora exista a subnotificação, o surto de covid-19 encontra-se em declínio no país. Os números ainda são elevados e o Brasil segue como epicentro mundial do vírus, com maior média de mortes diárias. Verificada em intervalos de sete dias, esta média está no menor nível desde o dia 2 de março (1.303). Já a média dos casos diários, também em queda, é de 44.923, menor índice desde o dia 16 de fevereiro, quando a chamada “segunda onda” de contágios iniciava sua escalada para o pior momento da pandemia, registrado nas duas primeiras semanas de abril.

Números da covid-19 no Brasil. Fonte: Conass

Vacina salva

Especialistas apontam que a redução de casos e mortes pelo coronavírus possui relação com o avanço da vacinação. Mesmo com lentidão e impactada pela má gestão do governo federal, a imunização aponta para sucesso na preservação de vidas. Segundo estudo da Universidade Federal de Pelotas, levando-se em conta faixa etária acima dos 60 anos, pelo menos, 63 mil vidas já foram salvas no país. Outro indicador aponta que a taxa de mortalidade do vírus cai de 2,8% para 0,02% com a imunização completa com duas doses.

Os dados mais recentes da vacinação no país apontam para cerca de 115 milhões de doses administradas. Em porcentagem, significa que 43,16% dos brasileiros receberam ao menos uma dose de imunizante e 15,19% estão cobertos por duas doses. Mesmo com indicadores positivos no sentido do controle da pandemia, o país está longe disso. A cobertura vacinal para o alcance de uma imunidade coletiva deve ser acima de 75%. Novas cepas, ou variantes, virais, também podem retardar o fim da pandemia.

Perigos

Países europeus com a imunização avançada vivem a insegurança do aumento de casos. A variante delta do coronavírus afeta a eficácia das primeiras doses das vacinas e é de 50% a 70% mais transmissível. Contudo, estudos indicam que as duas doses seguem eficazes no combate ao vírus. Mas também dificultam o avanço do vírus o fim de medidas de isolamento social e os eventos de massa, como a realização da Eurocopa com público nos estádios. Na Ásia, com porcentagens menores da população vacinada, a prevalência da nova cepa, identificada pela primeira vez na Índia, levou países como Japão e Tailândia a emitirem decretos de quarentena e medidas intensivas de isolamento social.

No Brasil, a variante indiana já foi identificada e, possivelmente, existe transmissão comunitária. Entretanto, prevalece ainda outra cepa, chamada de gamma, ou P1, identificada pela primeira vez no Japão. Ainda que menos contagiosa, a variante possui força e epidemiologistas apontam que ela pode se manter como dominante por mais alguns meses.

Curva de casos de covid-19 na Europa. Com mais de 30% da população vacinada, continente vê nova escalada no vírus com disseminação da variante delta. Fonte: Our World in Data

‘Cepa América’

Também existem riscos no Brasil, agora com a chegada da variante lambda. Identificada inicialmente em países andinos, ainda existem poucos estudos sobre a mutação que chegou ao país durante a Copa América. Entretanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) está atenta aos riscos. Após desencorajar a realização do torneio no país, a OMS reafirmou a necessidade de medidas de isolamento social no país.

O biólogo e divulgador científico Atila Iamarino reforça que a situação está longe do controle desejado, e que os brasileiros ainda correm riscos. Ele ressalta que a predominância da variante delta na Europa e não no Brasil também tem ralação com deslocamentos. “Recebemos bem menos pessoas de fora. Agora temos lambda e delta chegando, que são mais transmissíveis que a P.1 (gamma) e novas versões da P.1 com mais mutações dominando no Amazonas”.


RBA utiliza informações do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Eventualmente, elas podem divergir do informado pelo consórcio da imprensa comercial. Isso em função do horário em que os dados são repassados pelos estados. As divergências, para mais ou para menos, são sempre ajustadas após a atualização dos dados.


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