desigualdade

Vacinação é mais lenta em regiões pobres e com maior mortalidade

Pesquisa do Instituto Pólis aponta que bairros nobres de São Paulo têm mais de 22% da população imunizada com duas doses. Porcentagem cai para menos de 9,7% na periferia

Governo de São Paulo/Divulgação
Governo de São Paulo/Divulgação
"É urgente corrigir essa trajetória e identificar regiões com maiores riscos", afirmam os pesquisadores

São Paulo – A cobertura vacinal contra a covid-19 é desigual em São Paulo. Bairros centrais concentram maior porcentagem de vacinados do que regiões periféricas. Isso, mesmo com a mortalidade pela doença superior em bairros mais distantes do centro. Os dados foram apresentados nesta semana pela ONG Instituto Pólis. “É urgente corrigir essa trajetória e identificar regiões com maiores riscos”, afirmam os pesquisadores.

O médico e sanitarista Jorge Kayano, pesquisador da organização, reafirma a necessidade de ações para reverter este cenário. Em entrevista para o programa Bom Para Todos, da TVT, Kayano ainda afirmou que a desigualdade notada em São Paulo também acontece em outras cidades do país. “Estamos acompanhando o processo de vacinação e vemos incidência maior de casos de covid-19 nas periferias e um número muito maior (de não vacinados) nessas regiões”, disse.

“O que temos constatado é que o padrão de vacinação aponta que as regiões com menos casos e menos mortes têm maior cobertura vacinal. São as regiões mais ricas com predomínio da população branca. E as populações periféricas, mais vulneráveis, com mais casos e mortes, têm a vacinação muito mais atrasada”, disse. Também nas periferias, existe um número maior de segundas doses em atraso, aponta a pesquisa.

Dados da desigualdade vacinal em São Paulo, comparado com letalidade da covid-19

Vacinação sem equidade

Kayano aponta que os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) apontam para a função social de buscar igualdade. “Esta equidade está sendo solenemente pisoteada no programa de vacinação. Não só em São Paulo. É uma injustiça. Por que onde as pessoas morrem mais tem menos vacinados? É muito grave, porque a igualdade é uma competência do sistema de Saúde. Não podemos desconsiderar”, disse.

Diante dos resultados da pesquisa, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, junto da Defensoria Pública da União e do Ministério Público de São Paulo oficiou a prefeitura sobre o tema. Os órgãos querem saber como o poder público pretende resolver essas questões.

Imunização desigual

Em média, as periferias concentram três vezes mais mortes do que bairros centrais. Em relação à vacinação, bairros nobres como Jardim Paulista e Moema têm mais de 22% da população imunizada com duas doses. O número cai para menos de 9,7% em bairros periféricos como Perus, Cidade Tiradentes e Brasilândia.

“São 12 milhões de pessoas na cidade e temos regiões bastante desiguais. A preocupação da secretaria de Saúde deveria ser concentrar os esforços, a atenção, exatamente nas populações mais vitimadas. E não é o que percebemos pelo resultado da vacinação. O que importa para reduzir internações e mortes, são pessoas vacinadas com duas doses. Então, o governo faz propaganda que está acelerando a vacinação, mas tem esse engodo. O governo deveria reafirmar sua preocupação com a segunda dose”, completa o especialista.

Assista à entrevista na íntegra