Importante é vacinar

Testes sorológicos não servem para medir proteção vacinal

O ex-ministro da Saúde Arthur Chioro explica que tais exames não captam a imunidade celular, que é fundamental para a proteção das pessoas contra a covid-19

Marcelo camargo/EBC
Marcelo camargo/EBC
Estudo publicado nesta quarta (21) também comprova que duas doses das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca são eficazes contra as variante delta e alfa

São Paulo – Apesar de a vacinação ser a principal ferramenta de combate à covid-19, muitas pessoas estão fazendo testes sorológicos, que medem a presença de anticorpos no sangue, para, supostamente, checar se o imunizante funciona. Mas esse tipo de exame é inadequado, como alerta em comentário ao Seu Jornal, da TVT, o ex-ministro da Saúde e professor do Laboratório de Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Arthur Chioro.

De acordo com ele, a população não deve se preocupar com esse tipo de teste, mas em se vacinar. Os exames sorológicos vêm protagonizando uma série de vídeos desinformativos e conteúdos enganosos para desqualificar as vacinas. Em comunicado no início de junho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já havia desaconselhado seu uso para atestar a proteção vacinal. O órgão explica que os testes sorológicos não têm como finalidade garantir se uma pessoa está protegida ou não contra a doença do novo coronavírus.

“Não existe, até o momento, a definição da quantidade mínima de anticorpos neutralizantes. (…) Testes para diagnóstico não podem ser utilizados para determinar proteção vacinal”, destacou a Anvisa. 

Vacina funciona

O ex-ministro da Saúde aponta que a utilização desses exames tem relação com outros fatores que não a preocupação com a saúde pública. “No caso dos laboratórios, por exemplo, o interesse é comercial”, frisa.

Ainda segundo Chioro, defender a aplicação desses testes também indica que a pessoa não compreendeu a função de uma vacina. “Primeiro, existem dois tipos de resposta imunológica diferentes, que são igualmente importantes e protegem. Uma vem dos anticorpos que são induzidos contra os vírus, e a outra vem dos linfócitos, que é a denominada imunidade celular. Esses testes que existem por aí não captam a imunidade celular, que é fundamental para a nossa proteção como demonstram os dados da literatura científica”, observa o ex-ministro da Saúde. 

“O impacto que a vacina tem, está mais do que demonstrado, é no sentido não de produzir ou interromper a cadeia de transmissão simplesmente, mas fundamentalmente de reduzir as formas graves e mortes pela doença. E é isso que a Organização Mundial da Saúde (OMS), as entidades e os especialistas acreditam. E é por isso que eles não recomendam que se faça nenhum teste comercial depois da vacinação. Hoje, todas as vacinas que estão em uso no Brasil têm demonstrado que funcionam, inclusive com publicações nos mais renomados periódicos científicos, como o New England Journal of Medicine, com os dados de sucesso no Chile, no Uruguai e aqui no Brasil”, acrescenta. 

Variante delta

O professor e ex-ministro da Saúde reforça que o fundamental neste momento é tomar as duas doses da vacina contra a covid-19, principalmente diante da circulação da variante delta. Apenas em São Paulo, conforme reportou a RBA nesta quarta-feira (21), mais de 640 mil pessoas estão com a segunda dose atrasada, o que coloca em risco a imunização coletiva.

A cepa indiana é altamente transmissível e vem prejudicando o processo de reabertura de diferentes países. Mas um estudo publicado ontem no New England Journal of Medicine mostrou que duas doses das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca são eficazes contra as variantes delta e alfa (do Reino Unido). 

De acordo com informações da Folha de S. Paulo, as duas doses da Pfizer indicaram 88% de eficácia na prevenção de doenças sintomáticas da variante delta e 93,7% contra a variante alfa. A AstraZeneca conseguiu uma eficácia de 67% sobre a delta e 74.5% contra a alfa. O Instituto Butantan também informou nesta quarta que se prepara para realizar testes sobre a CoronaVac em relação à cepa. 

Imunização é coletiva

O entendimento de que a não imunização contra a covid-19 coloca todo o entorno em risco levou inclusive o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo a manter nesta semana a demissão por justa causa de uma auxiliar de limpeza. Ela trabalhava em um hospital infantil e se recusou a tomar a primeira e a segunda dose do imunizante no início deste ano. A trabalhadora questionava a exoneração por justa causa, que retira as vantagens da rescisão. Segundo ela, forçá-la a se imunizar feria sua honra e dignidade humana. 

A Justiça do Trabalho aferiu, porém, que um interesse particular não pode prevalecer sobre o coletivo. Para o tribunal, a auxiliar, ao negar a vacina, colocaria em risco a saúde de seus colegas de trabalho e pacientes. 

(*) Com informações da CUT


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