Longa batalha

Covid-19 recua no Brasil, mas avança no mundo. OMS alerta que ‘estamos longe do fim da pandemia’

Variante delta eleva casos de covid-19 no mundo. “Pior ação na pandemia descontrolada é achar que está controlada e liberar tudo”, afirma epidemiologista

Vinícius Quintão/FMUSP
Vinícius Quintão/FMUSP
Pesquisadores temem que a variante Omicron possa ser a mutação mais preocupante até agora, já que possui o maior número de mutações detectadas, mesmo em poucos dias

São Paulo – O Brasil registrou 542 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas, o menor registro desde o dia 6 de fevereiro, e o total de óbitos na pandemia chegou a 542.756. De ontem para hoje foram notificados 15.271 novos casos de covid, totalizando 19.391.845 desde 26 de fevereiro de 2020. Às segundas-feiras, os dados tendem a ser inferiores à realidade, já que existe menor número de trabalhadores ativos da medicina diagnóstica aos domingos. A última semana confirmou tendência de recuo em casos e mortes pelo coronavírus, sendo as 8.373 mortes notificadas o menor número em cinco meses. O mesmo movimento é observado em relação aos infectados. Foram 273.445, menor número desde a última semana de dezembro de 2020. Os resultados confirmam tendências apresentadas por especialistas e têm relação com o avanço na vacinação.

Números de casos de covid-19 no Brasil. Fonte: Conass

Vacinação

Embora lenta, avança o número de pessoas que já receberam imunizantes. A eficácia das vacinas fica evidente no recuo de mortes e internações, especialmente, entre estes grupos prioritários. Estima-se que até o fim do ano, 70% dos brasileiros tenham recebido duas doses das vacinas disponíveis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o avanço da vacinação chegue acima de 80% para que o surto seja controlado.

Entretanto, trata-se de um avanço. “Certamente teremos de rever esse percentual, mas chegar em 70% já significará uma diminuição grande nas internações e nos óbitos”, afirma a epidemiologista Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santo. Até o momento, o país conta com 17% da população vacinada com duas doses e 47% iniciaram o processo de imunização com a primeira. Cerca de 125 milhões de doses foram aplicadas.

Libera geral

Embora a vacinação apresente tendências positivas no Brasil, a pandemia não está sob controle. Ao contrário, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que o índice de transmissão segue alarmante em quase todo o país. Com a melhora nos indicadores, existe o temor por um “libera geral” das autoridades. O fim das medidas não farmacológicas, como distanciamento social e uso de máscaras, pode significar o recrudescimento do surto e o aumento nas internações e mortes.

“A pior ação na pandemia descontrolada é achar que ela está controlada e liberar tudo. Assim, as pessoas que não estão vacinadas e as parcialmente vacinadas podem contribuir para o surgimento ou espalhamento de novas variantes que escapem às vacinas. Esse momento exige cautela”, afirma Ethel. O surgimento de novas variantes é uma ameaça considerada “muito provável” pela OMS. A variante gamma (P1), identificada como de origem em Manaus, por exemplo, quando se tornou dominante no país, no que ficou conhecido como “segunda onda”, dobrou a média de mortes em comparação com os piores dias do primeiro impacto, ainda em 2020.

Variantes

Agora, a variante delta, identificada pela primeira vez na Índia, acende o alerta no mundo. Com potencial de transmissão até 70% maior, a cepa também implicou em mudanças no panorama de imunização. A mutação do vírus derrubou a eficácia das primeiras doses das vacinas, o que motivou o mundo a correr para antecipar as segundas doses. Com o esquema vacinal completo, os fármacos seguem seguros e com grande eficácia, mesmo contra a delta.

Hoje (19) a Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou estudos sobre terceiras doses para reforçar a imunização. Entretanto, trata-se de um estudo preliminar e que vai contra indicação da OMS. O momento, para a entidade, é de vacinar com duas doses o máximo de pessoas possíveis.

A variante delta motivou, na última semana, o aumento no número de casos de covid-19 em todo o mundo em 1%. A cepa ainda circula de forma tímida no Brasil, mas já dá sinais de expansão, e deve se tornar dominante nos próximos meses, como já visto na Europa e Ásia. Os continentes registraram aumento de 21% e 12%, respectivamente, nos casos. “Estamos numa situação muito perigosa. Ainda vemos aumento de mortes e casos. Estamos nos distanciando do fim da pandemia“, disse a diretora técnica da OMS, Maria Van Kerkhove, em coletiva concedida hoje.

Longe do fim

O diretor de operações da OMS, Mike Ryan, questionado sobre o fim da pandemia, disse: “Temos que ser honestos, não sabemos”. A OMS destacou ainda a grande circulação do vírus no Brasil e disse que o país, assim como outros, estaria “preso em uma situação de elevada intensidade de transmissão”. “Foram quase 1 milhão de novos casos nas Américas e 22 mil mortes. Portanto, ainda estamos longe do fim nas Américas”, completa.


RBA utiliza informações do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Eventualmente, elas podem divergir do informado pelo consórcio da imprensa comercial. Isso em função do horário em que os dados são repassados pelos estados. As divergências, para mais ou para menos, são sempre ajustadas após a atualização dos dados.


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