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Aglomerações da Eurocopa colocam Europa em alerta e OMS critica torneio. Brasil tem 524 mil mortes

Casos de covid-19 crescem na Europa com aglomerações da Eurocopa e aumenta circulação da variante delta. Situação coloca bloco e OMS em alerta

reprodução/instagram/seleção inglesa
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"Temos que olhar para muito além dos próprios estádios", afirmou a especialista em urgências da OMS

São Paulo – O número de casos de covid-19 voltou a crescer na Europa após 10 semanas de queda. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para riscos que se abatem no continente e para a disseminação da variante delta do vírus, até duas vezes mais contagiosa; e também ao relaxamento das medidas restritivas e de isolamento social. Neste contexto, a realização da Eurocopa com público ganha relevância crítica. Um alerta para o Brasil da Copa América, no dia em que o país registrou mais 830 mortes por covid-19 em 24 horas e chegou a 524.417 mortes, com 18,7 milhões de casos de contágio.

Fonte: Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass)

Neste ano, o campeonato de futebol entre seleções europeias está sendo realizado em 10 países diferentes. O torneio começou no dia 11 de junho e caminha para as semifinais. O aumento dos casos de covid-19 coincide com o período de realização. Dos 10 países, apenas a Alemanha adota uma restrição mais forte para a presença do público. No país, apenas 20% dos lugares disponíveis podem ser ocupados, no restante, 50%. O ministro do Interior da Alemanha, Horst Seehofer, classificou a autorização da Uefa para 50% de público como “totalmente irresponsável”.

Aglomerações

A Alemanha também restringiu a entrada de turistas de Portugal, país em que a variante delta é reconhecidamente dominante. Entretanto, dos 53 países do bloco europeu, a OMS afirma que a cepa viral está presente em, no mínimo, 33. Além das aglomerações nos estádios, a Eurocopa é marcada por bares lotados nos países participantes e grandes encontros para acompanhar os jogos. “Temos de olhar para muito além dos próprios estádios”, afirmou a especialista em urgências da OMS, Catherine Smallwood.

“Precisamos ver como as pessoas chegam lá, será que viajam em grandes trens e ônibus lotados? E quando saem dos estádios, vão a bares e pubs cheios de gente para assistir aos jogos?”, completou. Para a entidade, esses eventos indiretos estão estimulando a propagação da covid-19. O governo da Escócia, por exemplo, divulgou estimativa de que cerca de 2 mil escoceses se infectaram em eventos relacionados ao campeonato.

Certificado

O diretor regional da OMS na Europa, Hans Kluge, apontou para os perigos também das viagens. Como um bloco com poucas restrições e fronteiras fluidas, muitos europeus viajam entre os países da comunidade para acompanhar suas seleções. “É necessário cautela com o aumento da mistura de viagens, encontros e a diminuição das restrições sociais”, disse.

Por outro lado, Uefa se baseia em medidas de segurança avançadas para manter a agenda do futebol. Junto com a Eurocopa, o bloco adotou um certificado digital para autorizar viagens e dispensar o uso de máscaras. Trata-se de um atestado que os cidadãos apresentam no celular que só fica disponível quando eles estão vacinados com duas doses a mais de duas semanas, além da necessidade de um teste negativo para a covid-19.

Como a vacinação encontra-se avançada em muitos países do bloco, embora os casos de covid-19 avancem, até o momento isso não significou aumento nas mortes. O Reino Unido, por exemplo, que sedia a final do torneio, no emblemático estádio de Wembley, na Inglaterra, tem 53% da população totalmente imunizada e 72% tomaram ao menos a primeira dose. Em junho, a média de mortes diárias no país ficou em torno de 10. Mesmo com a média de casos subindo com velocidade, as mortes não avançaram; ao contrário, seguem ritmo de queda. O mesmo acontece com Portugal, onde a média de mortes fica próximo de uma vítima por dia.

Cova América

O cenário europeu difere muito do brasileiro. Mesmo com a vacinação lenta, uma gestão desastrosa, mais de meio milhão de mortes, o governo federal aceitou sediar a Copa América, campeonato similar à Eurocopa na América do Sul. Diferente da comunidade europeia, o Brasil aceitou sediar o torneio às pressas, com o total descontrole da covid-19 no país. Como resultado, um torneio rechaçado por atletas e pela sociedade, com baixa audiência, e número de casos de covid-19 entre atletas e comissão tecnica é mais de quatro vezes maior do que o número de gols.

Na América do Sul, circula livremente a variante delta, enquanto o Brasil tem 13,42% da população totalmente imunizada e menos de 38% tendo tomado a primeira dose. Trata-se do país com mais mortes por covid-19 no mundo em 2021 e, também, o país em que o presidente nega a gravidade da pandemia, incentiva e organiza aglomerações, além de ter divulgado mais de 2 mil mentiras sobre a covid-19, incluindo falsas acusações sobre perigos inexistentes do uso de máscaras.

Variante delta

A variante delta, identificada pela primeira vez na Índia, pode ser duas vezes mais rápida em sua disseminação e, possivelmente, mais letal, de acordo com a OMS. Por isso, sua livre circulação preocupa, especialmente, no sentido da possibilidade de mais mutações. O risco para a humanidade é alguma mutação do coronavírus ser resistente às vacinas existentes.

A OMS calcula que, até agosto, a variante delta será dominante na Europa. Embora os países mais ricos já tenham boa taxa de vacinação, mais de 60% dos europeus ainda não estão imunizados. Por isso, preocupa essa disseminação relacionada à Eurocopa, que pode significar, posteriormente, o descontrole entre as famílias dos viajantes e torcedores. “Novas variantes, défict na vacinação e aumento de interações sociais podem significar uma nova onda”, afirma Kluge.

A recomendação da OMS é para manter os cuidados. “Usem máscaras e tomem as duas doses das vacinas”, completa Kluge. Por fim, a entidade reforça que o controle da pandemia só virá com a imunização de rebanho, ou algo próximo a 80% da população vacinada.


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