Genocida viral

‘Os que morrerem a partir de maio têm o endereço de quem os matou: o Planalto’, diz Gonzalo Vecina

Ex-presidente da Anvisa afirma que o Brasil teria terminado imunização em massa em maio, não fossem os atrasos do governo Bolsonaro

Filipe Araujo
Filipe Araujo
"A partir de agora, todas as mortes que ocorrerem são devidas a quem não comprou a vacina. Tem nome e endereço", critica fundador da Anvisa

São Paulo – Até o Brasil alcançar a cobertura vacinal completa, prevista para novembro deste ano, mais de 350 mil a 400 mil pessoas podem perder a vida em decorrência da covid-19. É o que projeta o médico sanitarista e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gonzalo Vecina. A responsabilidade por essas mortes, de acordo com Vecina, será de quem está no Planalto, o presidente Jair Bolsonaro. 

Em entrevista à Carta Capital, o fundador da Anvisa garantiu que, se o governo federal tivesse comprado as vacinas ofertadas ainda em 2020, a imunização contra a doença do novo coronavírus poderia ter terminado em maio. Sem essas doses e com os atrasos na entrega de insumos em decorrência da demanda mundial e da dependência externa, a cobertura vacinal deve ser concluída somente daqui a seis meses, no mínimo.

A responsabilidade pelas mortes

Diante desse cenário e da terceira onda da covid-19, o segundo país do mundo com mais mortes deve sofrer um aumento expressivo no total de vidas perdidas. “Dos 450 (mil óbitos) que nós já temos, uma parte é devida ao não-isolamento social, ao uso inadequado desses medicamentos que estão aí. Isso é uma hipótese. A partir de agora, todas as mortes que ocorrerem são devidas a quem não comprou a vacina. Tem nome e endereço. E a população precisa ter consciência disso”, advertiu Vecina sobre a negligência do Planalto com as vacinas. 

“Todos os brasileiros que morrerem a partir de maio têm o endereço de quem os matou: mora no Palácio do Planalto”. “(…) Se as vacinas tivessem sido compradas e aplicadas, em meados de maio nós teríamos derrubado a mortalidade”, completou o sanitarista. 

Histórico de negativas do governo

No domingo (6), o jornal Folha de S. Paulo revelou que o governo Bolsonaro recusou a vacina da Pfizer no ano passado pela metade do valor pago por Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia. Consideradas caras em agosto de 2020 pelo então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, até 70 milhões de doses da Pfizer poderiam ter sido entregues em dezembro por US$ 10 cada. Os EUA e o Reino Unido já imunizaram cerca de 40% da população com as duas doses do imunizante, contra apenas 11% da população brasileira. 

A CPI da Covid no Senado ainda contabiliza 53 e-mails enviados pela Pfizer ao governo a partir de agosto, ofertando 70 milhões de doses. Todos sem respostas. Bolsonaro também é investigado pela formação de um “gabinete paralelo” ao Ministério da Saúde — como é chamado o grupo de conselheiros do presidente que atuou em favor de medicamentos sem eficácia, como a cloroquina, e contra as vacinas. 

À TVT, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que tamanha oposição do presidente Bolsonaro à vacinação “foi motivada por dinheiro, corrupção”. Vice-presidente da CPI da Covid, o parlamentar destacou que a comissão já tem provas de delitos cometidos pelo governo.


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