Consequências

Pedro Hallal: ‘Bolsonaro não pode mais liderar enfrentamento da pandemia’

Para epidemiologista, Bolsonaro também é responsável “pelo descontrole do vírus” que pode estar favorecendo a criação de variantes mais transmissíveis. E que, futuramente, podem inclusive escapar das vacinas

Paulo Desana/Dabakuri/Amazônia Real
Paulo Desana/Dabakuri/Amazônia Real
A nova cepa Delta provocou a morte de uma mulher de 42 anos que estava grávida, no Paraná, e de um homem de 54 anos que estava desde maio internado no Maranhão

São Paulo – Em entrevista à edição desta segunda-feira (28) do Jornal Brasil Atual , o epidemiologista Pedro Curi Hallal, pesquisador e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), afirmou que Jair Bolsonaro é “grande inimigo” para o enfrentamento da pandemia no Brasil. E defendeu que o presidente da República seja retirado imediatamente da liderança do combate à covid-19. De acordo com Hallal, a CPI da Covid no Senado deve ter como tarefa “dar respostas à população no curto prazo” para “permitir que o Brasil enfrente decentemente a pandemia”. Esse é, em sua avaliação, o “desfecho mais importante do que qualquer outro”.

“Bolsonaro não pode mais liderar o enfrentamento da pandemia, ele precisa ser retirado desse espaço. Se isso significa retirá-lo também do posto de presidente da República, temporariamente ou definitivamente, essa é uma questão política. Mas na questão científica, e criminal até, é obrigatório que o afastamento do presidente, pelo menos no enfrentamento da pandemia, se dê imediatamente”, afirmou.

O epidemiologista fez parte da oitiva, na semana passada. A CPI da Covid apura possíveis omissões e erros cometidos pelo governo federal em meio à crise sanitária. Na ocasião, Hallal compartilhou dados que comprovam que a maioria das mortes no país poderia ter sido evitada. Aos senadores, ele destacou que a condução de Bolsonaro levou ao menos 400 mil pessoas à morte. À Rádio Brasil Atual, Hallal acrescentou que a liderança do mandatário também é responsável “pelo descontrole do vírus” que pode estar favorecendo a criação de variantes mais transmissíveis. E que, futuramente, podem inclusive escapar das vacinas. 

Variante Delta no Brasil

Neste domingo (27), o Ministério da Saúde confirmou a segunda morte decorrente da variante Delta do coronavírus no Brasil. A nova cepa indiana provocou a morte de uma mulher de 42 anos que estava grávida, no Paraná, e de um homem de 54 anos que estava desde maio internado no Maranhão. Ele era tripulante do navio chinês MV Shandogn da Zhi, fretado pela Vale, onde foram registrados os primeiros casos locais da variante. Há ainda mais 11 casos, em cinco estados, de pacientes infectados por essa cepa. Considerada mais transmissível e letal, a variante Delta já preocupa a Organização Mundial da Saúde (OMS) e ameaça o enfrentamento da pandemia em 92 países. 

“Essa são apenas as primeiras mortes confirmadas, porque certamente já houve outras mortes no Brasil decorrentes dessa variante”, explica. “Ainda não temos o dado se essa variante escapa (das vacinas). Temos algumas evidências preocupantes de Israel, que é um país que basicamente tinha já vencido a pandemia. Com essa variante parece haver aumento de casos em alguns lugares do país, inclusive eles estão retomando o uso de máscara. Então, infelizmente o que pode se concretizar é o que falamos já há muito tempo, que o descontrole do vírus, tanto no Brasil como na Índia, pode estar gerando variantes mais transmissíveis e que eventualmente escapem das vacinas existentes”, adverte Hallal. 

Confira a entrevista 

Redação: Clara Assunção