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Erros de Bolsonaro, Doria e Covas aceleraram contágio da covid-19 pelo Brasil

Estudo chefiado por Miguel Nicolelis mostra que falta de ações dos três governantes fez cidade de São Paulo ser a principal disseminadora da pandemia no país e um lockdown nacional teria evitado o super espalhamento da doença

TWITTER/REPRODUÇÃO
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Doria e Bolsonaro se afastaram e trocaram farpas por conta da covid-19. A condução na pandemia, porém, não é muito diferente

São Paulo – Artigo assinado pelos cientistas Miguel Nicolelis, Rafael Raimundo, Pedro Peixoto e Cecilia Andreazzi e publicado ontem (21) na revista Scientific Reports mostra que a falta de ação contra a covid-19 pelo governo Bolsonaro, associada à lentidão na tomada de medidas pelos governos de João Doria e Bruno Covas, ambos do PSDB, foram determinantes para o espalhamento da doença em todo o país. Segundo o estudo, a cidade de São Paulo foi a principal disseminadora da covid-19 para o Brasil, nas primeiras três semanas após a confirmação do primeiro caso. Em seguida, outras 16 cidades passam a contribuir na proliferação da doença, respondendo por quase 99% dos casos notificados, nos primeiros três meses da pandemia no país.

“Dados de mobilidade humana revelaram que, durante as primeiras três semanas da epidemia, só a cidade de São Paulo foi responsável pela disseminação de mais de 85% dos casos originais que se espalharam pelo Brasil. Por causa de uma contribuição inicial incrível, e do fato de que (o percentual de casos em relação ao país) nunca caiu para menos de 30% nos três meses seguintes, São Paulo foi a principal cidade super espalhadora da epidemia”, afirmam os pesquisadores.

Primeiro caso, primeira morte

O primeiro caso de covid-19 registrado no Brasil foi em 26 de fevereiro de 2020, de um homem vindo em um voo da Itália que desembarcou em São Paulo. No dia 17 de março, foi registrada a primeira morte, também na capital paulista. Em nenhum momento o governo Bolsonaro reagiu ao início da transmissão de covid-19 no Brasil e Doria só decretou as primeiras medidas de isolamento social para evitar a disseminação da covid em 24 de março, quando foi implementada a quarentena em todo o estado.

O então prefeito, Bruno Covas (PSDB), morto em 16 de maio deste ano, apenas acompanhou o governo estadual, sem nenhuma medida própria.

Sem medidas de restrição

Mesmo nos meses seguintes, nenhuma medida de restrição de circulação ou isolamento social foi decretada por Bolsonaro. Os aeroportos internacionais continuaram recebendo viajantes de todos os países, sem nenhuma restrição, quarentena ou mesmo testagem de quem chegava. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) chegou a proibir que o governo do Ceará realizasse testes para detectar pessoas infectadas no desembarque do Aeroporto de Fortaleza.


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Sem controle nas cidades, sem restrições de circulação pelo governo federal e com uma distribuição altamente desigual das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), cuja imensa maioria fica nas capitais e regiões metropolitanas, o Brasil acabou se tornando um modelo perfeito de disseminação descontrolada. Em apenas 30 dias, a doença já havia chegado a todas as regiões do país.

Impacto poderia ser menor

“Se um bloqueio tivesse sido imposto anteriormente nas capitais espalhadoras, restrições de tráfego rodoviário obrigatórias tivessem sido aplicadas e existisse uma distribuição geográfica mais equitativa de leitos de UTI, o impacto do covid-19 no Brasil seria significativamente menor“, afirmam os pesquisadores. Mais de 500 mil pessoas já morreram de complicações causadas pelo novo coronavírus.

Segundo o estudo, além de São Paulo, outras 16 cidades contribuíram de forma determinante para o espalhamento da covid-19 no Brasil: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, Salvador, Fortaleza, Recife, São Luís, João Pessoa, Manaus, Belém, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Goiânia, Cuiabá e Campo Grande. Mostra ainda que 26 rodovias federais (BRs) foram o principal caminho de aproximadamente 30% da proliferação de casos.

“Esta propagação impulsionada pela rodovia foi o principal mecanismo através do qual os primeiros casos chegaram a todas as cidades brasileiras. Assim, em cerca de 30 dias, o SARS-CoV-2 foi transportado para todas as cinco regiões, através do eixo norte-sul do Brasil, uma distância de 5.313 quilômetros”, apontam os pesquisadores.

Desigualdade hospitalar

Esse é o ponto que escancara a desigualdade da distribuição das UTI pelo país. Com o aumento de casos nas cidades do interior, pacientes graves começaram a ser transferidos para capitais e regiões metropolitanas, causando um “efeito bumerangue”. Com isso, o registro das mortes acabou sendo distorcido.

Segundo os pesquisadores, a cidade de São Paulo recebeu pacientes de 464 municípios do Brasil. Em seguida, vêm Belo Horizonte (351 cidades), Salvador (332 cidades), Goiânia (258) e Recife (255).