Descontrole

Doria prorroga fase de transição em São Paulo, mesmo com explosão de casos de covid-19

Volume de novos casos de covid-19 em São Paulo é semelhante ao ocorrido no pico da pandemia, em abril. Situação é de pandemia totalmente descontrolada

Govesp/Divulgação/Fotos Públicas
Govesp/Divulgação/Fotos Públicas
A chamada fase de transição foi criada por Doria para agradar empresários de São Paulo. Dados mostram que a pandemia no estado só se agravou desde então

São Paulo – Ignorando a explosão de casos e o aumento de mortes pela covid-19 no estado de São Paulo, o governador João Doria (PSDB) anunciou hoje (23) a prorrogação da fase de transição da quarentena até 15 de julho. Com isso, o horário de funcionamento do comércio e dos serviços segue sem alteração, das 6h até as 21h e sem limite de ocupação, embora o governo recomende que não ultrapasse 40%. Também segue valendo o chamado toque de recolher das 21h às 5h. O estado registra hoje 520 casos de covid-19 por 100 mil habitantes, o maior número de casos por grupo de 100 mil habitantes de toda a pandemia.

Criada por Doria para agradar empresários, a fase de transição teve início em 18 de abril, para ser uma etapa com maior flexibilização, entre as fases vermelha e laranja da quarentena. Mas foi sendo modificada com o passar do tempo e se tornando tão branda quanto a fase verde. Agora, ela permite a abertura de comércios, serviços, espaços culturais, cinemas, feiras, escolas, bares e restaurantes praticamente sem limite de horários e de ocupação. Duas semanas depois de implementada, o número de casos, internações e mortes pela covid-19 no estado voltaram a subir. Desde então, ainda não voltou ao nível anterior a abril.

Pandemia só cresce

A média de novos casos de covid-19 registrados por dia em São Paulo está em 17.623, semelhante à ocorrida no pico de abril. Com isso, a taxa de novos casos por 100 mil habitantes bateu recorde ao chegar à marca de 520 – o maior número de toda pandemia. Os parâmetros internacionais consideram a pandemia totalmente fora de controle quando os casos chegam a 100 por 100 mil habitantes. Apenas na semana passada, o estado registrou mais de 123 mil novos casos, também o maior número desde o início da pandemia, em março do ano passado.

A média de mortes pela covid-19 em São Paulo também segue alta. São 577 mortes por dia, em média, sendo que na semana passada foram registrados mais de 4 mil óbitos. O índice atual de mortes diárias é maior que o registrado em todo o ano passado e nos três primeiros meses deste ano. Só ontem, foram registradas 843 mortes no estado.


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As internações, que caíram de forma consistente durante a fase emergencial, voltaram a subir na fase de transição. O total de pessoas internadas nunca caiu abaixo de 20 mil, embora tenha chegado a 31,5 mil no pico de abril. Hoje há 22.345 pessoas internadas com covid-19 em São Paulo, sendo 10.597 em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e 11.748 em enfermarias. O número é praticamente o mesmo que havia há 30 dias: 22.337. Nesse meio tempo, as pessoas internadas em UTI chegaram a 11.236, em 9 de junho, mas o número voltou a cair nos últimos dias.

Único dado positivo atualmente é o número de novas internações por dia, que vem caindo de forma consistente há 10 dias. Após atingir média de 2.744 internações por dia, no dia 11, o indicador passou a cair e hoje marca média de 2.381, queda de 13,2%.

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Para o coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo, Paulo Menezes, a queda nas internações é reflexo direto da vacinação da população a partir de 60 anos, que está quase completa. Porém isso não se reflete no número de casos porque esse grupo tem participação menos na transmissão da doença: 15%. Já os grupos etários mais expostos – 30, 40 e 50 anos – ainda não receberam a vacina. Esses respondem por mais da metade dos casos.  

“Isso começa a aparecer de forma clara nos nossos indicados. Tivemos aumento de 18% no indicador de casos por 100 mil habitantes. O de internações por 100 mil habitantes teve movimento contrário, uma redução de 5%. Nós sabíamos que, até o momento atual, o impacto da vacinação na transmissão seria limitado. Nas próximas semanas devemos começar a observar o impacto da vacinação dessas faixas etárias (40 a 59 anos) ao longo de julho”, disse Menezes.

Ainda segundo Menezes, antes da vacinação, os idosos representavam 60% de todas as internações. Em maio, eles passaram a 34%. Já a faixa etária de 40 a 59 anos passou de 12% do total de internações para 48%.


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