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Copa do negacionismo: ‘não está tudo normal’, diz infectologista

Infectologista Marcos Boulos (FMUSP) prevê mais de 600 mil mortos no segundo semestre e critica ministro da Saúde por dizer que a Copa América no Brasil não traz riscos de agravamento da pandemia

Lucas Figueiredo/CBF
Lucas Figueiredo/CBF
Jogadores da seleção brasileira divulgaram manifesto contra organização da Copa América no Brasil, mas vão disputar o torneio

São Paulo – O médico infectologista Marcos Boulos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), disse que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, está “absolutamente equivocado” ao afirmar à CPI da Covid que a Copa América no Brasil não representa riscos de agravamento da pandemia. Delegações oriundas de outros países podem trazer novas cepas e variantes da doença, bem como levá-las do Brasil aos seus locais de origem. Além disso, a realização do torneio é uma falsa sinalização de normalidade.

“Qualquer sinalização de normalidade vai contra o que está acontecendo hoje. Não é momento de achar que está tudo normal”, disse Boulos, em entrevista a Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (9). Ele destaca que a situação é “dramática”, e que o Brasil deve ultrapassar a marca de 600 mil mortos pela pandemia no segundo semestre.

De acordo com o especialista, os números de mortos só não são maiores atualmente por conta dos efeitos da vacinação entre os idosos. Por outro lado, por serem naturalmente mais resistentes à doença, as internações entre os jovens são mais prolongadas, levando a um novo esgotamento dos leitos de UTIs em diversas regiões do país.

Pior do mundo

Boulos voltou a classificar o Brasil como o “pior do mundo” no controle da pandemia. Ele atribui o péssimo desempenho à falta de coordenação do governo federal, sob comando do presidente Jair Bolsonaro, que nega os impactos da doença. Um dos sintomas da má gestão é o fato do ministério da Saúde não contar nem sequer com um especialista em infectologia na coordenação do enfrentamento à doença.

“Quando o governo federal não só não organiza, como também é contra, cada estado faz por sua conta. E fica essa bagunça que estamos vendo. Cada um faz de um jeito, e nunca dá certo. Um abre, o outro fecha”, criticou Boulos. “Não acreditava que isso pudesse acontecer. Nunca vi coisa igual. A epidemia como está, e as pessoas negacionistas desse jeito. Não ligam para a vida. Querem brincar de roleta russa”, lamentou.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima


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