Desigualdade

Acesso difícil à água e aglomeração em casa dificultam proteção contra a covid

Segundo o IBGE, em 2019 havia quase 40% da população com problemas no abastecimento. E 10% dos domicílios concentravam seis pessoas ou mais

Reprodução
Reprodução
Em 2019, 22% moravam em domicílios sem abastecimento diário ou armazenamento, 12% conseguiam água sem acesso à rede e 3,4% não tinham rede nem canalização

São Paulo – Com grande parte da população com dificuldade de acesso à água e número elevado de pessoas em muitas moradias, as medidas de precaução contra a pandemia de covid-19 podem ficar comprometidas. Segundo dados divulgados nesta quarta (23) pelo IBGE, em 2019, período anterior à pandemia, quase 38% da população “tinha alguma vulnerabilidade de acesso à água, o que poderia dificultar a higienização das mãos e de objetos”.

De acordo com a pesquisa, 22,4% moravam em domicílios sem abastecimento diário ou estrutura de armazenamento, enquanto 11,9% “eram abastecidos por outra forma que não a rede geral”. Além disso, 3,4% dos domicílios não estavam ligados à rede e também não dispunham de canalização. Esse percentual cai para 1,6% entre moradores brancos e o triplo, 4,8%, entre pretos e pardos (classificação usada pelo IBGE). Além disso, nas áreas urbanas, 10,4% das pessoas não contavam com abastecimento diário, apesar de serem atendidos pela rede geral.


Estrutura desigual

“Esses dados tornam ainda mais evidente a desigualdade no abastecimento de água nos domicílios brasileiros”, afirma o analista Bruno Perez. “Somente 62,2% da população dispunha de água oriunda de rede geral de distribuição, com abastecimento diário e com estrutura de armazenamento em seu domicílio, e, portanto, tinha melhores condições de cumprir as recomendações de higienização”, acrescenta.

Outra preocupação, aponta o IBGE, é o do chamado adensamento familiar – quantidade de pessoas por domicílio. Um fator que compromete a possibilidade de isolamento, naquela residência, em caso de haver um morador contaminado. Segundo o instituto, também em 2019, 27% da população vivia em domicílios com três pessoas. E 9,8%, com seis ou mais moradores. O estado do Amapá, assim como a região metropolitana e a capital, Macapá, superavam 30% dos domicílios com seis pessoas ou mais.

População negra tem condições piores

“Esse indicador também está correlacionado a cor ou raça e a renda dos moradores”, destaca o IBGE. “A proporção de domicílios com seis ou mais moradores era 12,3% entre a população preta ou parda e 6,5% na população branca.”

Além disso, entre a população que vivia na pobreza, 22% residiam em domicílios com seis pessoas ou mais. O Banco Mundial considera como vivendo na pobreza, em países em desenvolvimento, aqueles que ganham menos de US$ 5,50 por dia ou R$ 436 per capita por mês.

Dificuldade de isolamento

Ainda de acordo com a pesquisa, 19,7% das pessoas viviam em domicílios com mais de dois moradores por dormitório. Essa taxa sobe para 35,4% na região Norte, chegado a 46,5% em Roraima. E cai para 10,5% em Santa Catarina. “Isso mostra a dificuldade de alguns brasileiros de praticarem o isolamento social no domicílio caso algum morador apresente algum sintoma”, diz Perez.

Além de todas essas limitações, 2,6% da população vivia em domicílios sem banheiro em 2019. No Norte, eram 11%. “Entre a população que vivia na pobreza, mais da metade (57,2%) residia em domicílios com mais de três moradores por banheiro. Já 8,1% em domicílios sem o cômodo usado para higienização pessoal.”


Leia também


Últimas notícias