PANDEMIA

Índia tem recorde diário de mortes. Covid-19 avança para área rural

País teve 4,2 mil mortes na terça-feira, levando o total para mais de 254 mil. Relatos apontam falta de oxigênio em hospitais e dezenas de corpos flutuando no rio Ganges

Juan Toño / Wikimedia
Juan Toño / Wikimedia
Rio Ganges, na Índia, onde dezenas de corpos foram vistos flutuando após a explosão de casos

São Paulo – A pandemia na Índia registou recorde de mortes nesta terça-feira (11). Foram 4,2 mil em um único dia, elevando o total de vítimas para 254.225, de acordo com o site Worldometers. Enquanto os grandes centros, como a capital Nova Deli e Mumbai, começam a dar sinais de estabilidade no número de casos, a doença se expande nas áreas rurais e com menos recursos. Assim, começam a ser frequentes relatos de problemas causados pela falta de oxigênio nas unidades de saúde e do aumento de corpos flutuando no rio Ganges.

O patamar de mortes no país vem crescendo com força desde meados de março, mas naquela ocasião ainda eram menos de 500 por dia em um país com cerca de 1,3 bilhão de habitantes. Desde então, porém, o crescimento ganhou força e ainda na primeira quinzena de abril superou a marca diária de mil óbitos. Menos de um mês depois, em 7 de maio, rompeu a barreira das 4 mil mortes. Um dos motivos para a explosão, segundo matéria do The New York Times veiculada pelo O Estado de S.Paulo nesta quarta-feira (12), foi a postura do primeiro-ministro Narendra Modi, acusado de dizer antes da hora que a pandemia já havia passado.

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Até terça-feira, a pandemia na Índia já havia registrado 23.340.426 casos, com 348.499 somente naquele dia. É o segundo país com mais casos do mundo, superado apenas pelos Estados Unidos, com 33.550.115. Porém, com a vacinação avançando, os norte-americanos registraram na mesma terça cerca de 10% dos casos do total do país asiático: 34.904, com 743 mortes. O Brasil vem em terceiro, com 15.285.048, sendo 71.018 no dia e 2.275 óbitos pela covid-19.

Oxigênio e vacinação

Diante do aumento acelerado de casos, a Índia começa a registrar problemas com a falta de oxigênios medicinais, em um cenário parecido com o que o Brasil viu em Manaus no início do ano. Notícias dão conta de cerca de 200 mortes pela ausência do insumo e pelo menos 20 hospitais reportando falta de estoques.

A crise de abastecimento força estados, especialmente no sul do país, a pararem de trocar entre si unidades de oxigênio medicinal. Precisam manter o suprimento para as próprias, e crescentes, necessidades. O estado de Tamil Nadu, por exemplo, não pode cooperar com o vizinho Andhra Pradesh, que tem menos recursos, onde onze morreram sem assistência na segunda (10).

Corpos pelo Ganges

Outra consequência do descontrole da pandemia na Índia é o aumento de corpos relatados boiando no rio Ganges. Algumas famílias têm como prática enviar os corpos de entes queridos para o rio, o mais sagrado do hinduísmo. Moradores de comunidades ribeirinhas, porém, citam avistar um ou outro cadáver, eventualmente, nas águas. Na segunda-feira os relatos davam conta de pelo menos cem corpos flutuando na parte rasa, inchados. Autoridades disseram que eram cerca de 30. “Nunca vi tantos corpos”, disse Arun Kumar Srivastava, médico do governo em Chausa, à reportagem do The New York Times.

Além do aumento das mortes causado pela pandemia na Índia, o número fora dos padrões normais pode ser explicado pelo encarecimento das taxas de cremações por conta do aumento da demanda, forçando as pessoas mais pobres a descartar os corpos no Ganges. Segundo Krishna Mishra, motorista de ambulância em Chausa, o valor saltou de 2 mil rúpias (US$ 27), para 15 mil rúpias (US$ 200).


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