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Covid aumenta risco de tromboses mais que vacinas, afirmam estudos

Risco de formação de coágulos sanguíneos após a covid é aproximadamente de 8 a 10 vezes o relatado para as vacinas. E cerca de 100 vezes maior em comparação com a taxa entre não infectados

Ivan Diaz / Unsplash
Ivan Diaz / Unsplash
O descontrole no contágio, ainda que as vacinas sirvam de "barreira" para casos mais graves, pode acarretar no surgimento de novas variantes

São Paulo – No início da pandemia de covid-19, a doença era descrita como uma síndrome respiratória. Inicialmente, foi chamada de pneumonia de Wuhan, em referência à primeira cidade a detectar o coronavírus, capital da província de Hubei, na China. Isso ainda no fim de 2019. Com a disseminação global, veio o declaração de pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020. Desde então, o entendimento sobre o vírus mudou.

Existe ampla literatura científica sobre a doença e seus efeitos. Até mesmo já foram produzidas vacinas eficazes e seguras em tempo recorde na história da humanidade. Hoje, países com o processo de imunização mais avançado já começam a superar o vírus. Contudo, entre os aprendizados que vieram a partir dos estudos está a constatação de que a covid-19 não é apenas uma doença respiratória. Trata-se de uma doença sistêmica, que pode afetar diferentes partes do organismo, a partir do que cientistas chamam de “tempestade de infecções”.

Covid e Tromboses

Entre os efeitos que mais chamam a atenção está o fator trombogênico. Ou seja, a covid-19 possui a capacidade de desencadear tromboses que, por sua vez, consistem na formação de coágulos em veias. O maior risco em relação à trombose é a chamada embolia pulmonar. Ela ocorre quando a circulação ou a formação destes coágulos obstrui os vasos sanguíneos do pulmão, o que pode ser fatal. “A trombose acomete cerca de um terço dos pacientes com covid-19 internados em UTI. A covid-19 aumenta o risco de ter trombose porque promove anormalidades na coagulação. E isso facilita a formação de coágulos por meio de um mecanismo ainda não totalmente conhecido”, informa a secretaria de Saúde de Minas Gerais, a partir de artigo publicado na revista científica National Library of Medicine.

AVC

Outro tipo de trombose que pode ser desencadeada pela covid-19 é a trombose venosa cerebral (TVC). Neste caso, o coágulo acomete seios venosos ou veias do cérebro. A doença é rara e representa 1% dos casos de acidente vascular cerebral (AVC). Entretanto, a covid-19 aumenta as chances de sua ocorrência. “O aumento do índice de CVT com a covid-19 é notável, sendo muito mais marcante do que os riscos aumentados para outras formas de acidente vascular cerebral e hemorragia cerebral”, afirma estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, intitulado Trombose Venosa Cerebral: Um estudo de corte retrospectivo de 513.284 casos de covid-19 confirmados e uma comparação com 489.871 pessoas recebendo vacina de mRNA (leia aqui).

Como o título do artigo indica, foram aferidas as possibilidades de coágulos indicando tromboses em infectados por covid-19 e também em vacinados. Foram levados em consideração imunizantes de RNA mensageiro (mRNA) como o da Pfizer e da Moderna, além da vacina da AstraZeneca. Esta última em uso no Brasil e produzida aqui em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Vacinas

A vacina da AstraZeneca provocou questionamentos sobre sua segurança após a suspeita de casos de trombose, na Inglaterra, associados a seu uso, conforme apontado The New England Journal of Medicine. Entretanto, cientistas argumentam que efeitos colaterais, desde que em percentuais mínimos, são esperados quando se utiliza um medicamento em uma escala planetária. E que o número de casos reportados é ínfimo, o que não tira a qualidade e segurança do imunizante. Tanto autoridades de vigilância sanitária da União Europeia, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) seguem recomendando o uso da vacina. “Coágulos sanguíneos incomuns juntos com o baixo nível das plaquetas devem ser listados em bula como um possível efeito colateral muito raro do imunizante”, destaca a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) sobre o produto da AstraZeneca.

Como aponta o estudo, os riscos de tromboses em infectados com a covid-19 superam em ampla porcentagem os riscos representados pelas vacinas. “Embora a magnitude não possa ser quantificada com certeza, o risco após a covid-19 é aproximadamente de 8 a 10 vezes o relatado para as vacinas. E cerca de 100 vezes maior em comparação com a taxa da população.”

O estudo prossegue e aponta que “esses dados mostram que a incidência de CVT cresce significativamente após a covid-19, e é maior do que a observada em relação às vacinas BNT162b2 (Pfizer/BioNTech) e mRNA-1273 (Moderna). O risco apresentado pela covid-19 é também maior do que a última estimativa da Agência Europeia de Medicamentos associada à vacina ChAdOx1 nCoV-19 (Oxford/AstraZeneca)”. De fato, os dados apontam para prevalência de 39 casos de CVT para cada milhão de infectados por covid-19, em comparação com 4,1 por milhão no caso das vacinas Pfizer e Moderna; e 5 por milhão no caso da AstraZeneca.

Acompanhamento

Com a evolução da covid-19, médicos orientam o acompanhamento para tratar possíveis distúrbios trombogênicos associados ao vírus. “A trombose venosa profunda aparece também em pacientes mais jovens, a partir destas alterações no processo de coagulação. Quanto mais rápido for identificada, no entanto, é possível tratar com anticoagulante já bastante conhecido na medicina vascular: a heparina. Ou mesmo o tratamento cirúrgico dependendo da gravidade, sempre tentando prevenir a possibilidade de embolia pulmonar (TEP), que provoca alto risco à vida”, afirma artigo do Instituto Vascular Ricardo Gaspar.

O texto informa que a literatura médica está sendo produzida dia a dia e que cada vez mais fatores individualizados da progressão da covid-19 devem ser observados. “Considerando que a coagulação intravascular disseminada (uma síndrome de coagulação sistêmica) acontece numa fase mais evoluída da doença, os médicos intensivistas já têm administrado anticoagulantes em doses terapêuticas, mas também preventivas, antes do paciente apresentar este quadro – assim como nos internados na enfermaria, que apresentam riscos maiores de processo trombogênico. É importante lembrar que em grande parte das pessoas sintomáticas, este processo coagulativo não chega a acontecer”, completa.


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