460 DIAS DEPOIS...

Governo Bolsonaro cria secretaria para covid-19, após 423 mil mortes

Pressionado por negligenciar a pandemia, governo federal esvazia comitê com os poderes Legislativo e Judiciário, e cria secretaria extraordinária para enfrentar a doença

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Palácio do Planalto afirmou que será papel da secretaria 'propor diretrizes nacionais' com tutela do Ministério da Saúde

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro anunciou a criação, nesta terça-feira (11), de uma Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à covid-19, que estará ligada ao Ministério da Saúde. Bolsonaro adota a medida 461 dias após o início da pandemia e o país acumular 423 mil mortos pelo vírus.

Em curto comunicado, na noite da última segunda-feira (10), o Palácio do Planalto afirmou que será papel da secretaria “propor diretrizes nacionais e ações de implementação das políticas de saúde para o enfrentamento à covid-19, em articulação com os gestores estaduais, municipais e do Distrito Federal”.

Na prática, a secretaria para a covid-19 do governo federal esvazia o comitê que reúne Bolsonaro com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), além de contar com a anuência do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux. Após algumas reuniões, o comitê deixou de se encontrar há cerca de um mês, depois de Bolsonaro se pronunciar contra as decisões tomadas pelo grupo.

A criação da secretaria ocorre enquanto o governo federal é cobrado e investigado pela omissão e negligencia no combate ao coronavírus, na CPI da Covid no Senado Federal. A primeira semana da comissão foi marcada pela denúncia de boicote a vacinas, fuga de Pazuello e defesa da cloroquina.

UPAs improvisadas

Reportagem publicada pelo O Estado de S.Paulo revela que mais de 22 mil pessoas morreram de covid-19 em unidades de pronto atendimento (UPAs) do país desde o início da pandemia, após ficarem internadas por mais tempo do que o recomendado e não conseguirem leitos em hospitais.

O levantamento, com base nos dados do sistema de internações Sivep-Gripe, do Ministério da Saúde mostra que cerca de 10% das vítimas tinham menos de 60 anos e nenhum fator de risco associado. Os pacientes ficaram internados por dois dias ou mais nessas unidades, prática vedada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Desde março do ano passado, quando iniciou a pandemia, as UPAs de todo país acumulam 22.463 mortes de pacientes com covid-19 que ficaram internados por mais de 24 horas. Do total, 10.779 óbitos foram registrados nos quatro primeiros meses deste ano. O tempo médio de internação foi de 11,6 dias, mas em alguns casos a permanência foi de mais de cem.

Ao Estadão, Ederlon Rezende, membro do conselho consultivo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), explica que internações prolongadas em UPAs ou outras unidades de pronto-atendimento comprometem o prognóstico de um doente. “A chance de ele sobreviver diminui muito. Essa é uma das razões que explicam por que a mortalidade em UTI pública é maior do que a de UTIs privadas: o doente do SUS espera muito em UPAs para conseguir uma vaga”, disse.


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