Estoque crítico

Ministério da Saúde não cumpre planejamento e aumenta risco de falta de remédios do ‘kit intubação’

Após centralizar compras, ministério só conseguiu adquirir 17% do total projetado para seis meses de medicamentos usados no tratamento de pacientes com covid-19 em estado grave

EBC
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Ministério da Saúde só conseguiu até o momento comprar apenas 17% do total de medicamentos usados no tratamento de pacientes com a covid-19 em estado grave

São Paulo – Há mais de um mês recebendo alertas dos estados sobre a falta do chamado “kit intubação”, o Ministério da Saúde só conseguiu até o momento comprar 17% do total planejado para seis meses de medicamentos usados no tratamento de pacientes com a covid-19 em estado grave. Em reunião com a Casa Civil, no final de março, a pasta havia acertado a compra de cerca de 186 milhões de doses. No entanto, foram compradas somente 32,48 milhões de doses.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo que teve acesso à nota técnica do ministério assinada no dia 12. O documento aponta que o governo federal vinha mantendo a reserva por meio de pregões de compra realizados no ano passado. Mas, desde que admitiu que os medicamentos estavam em “estoque crítico”, em março, a pasta fala em dificuldades de compra no Brasil e no exterior para refazer as reservas de remédios necessários para viabilizar a intubação. 

No dia 29 de março, conforme mostrou a RBA, nenhuma das unidades federativas tinha estoque suficiente de bloqueadores musculares. E pelo menos 10 estados também estavam no limite da reserva de analgésicos e sedativos. Na ocasião, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) importaria os medicamentos e os estoques seriam normalizados até esta semana. A entidade, braço das Nações Unidas, no entanto, só conseguiu entregar 14% das 100 milhões de doses demandadas. 

Governo não se preparou

De acordo com o Estadão, o estoque federal de nove medicamentos do kit intubação já acabou. E as reservas de outros 10 remédios estão quase no fim. À reportagem, o ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e médico sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), Claudio Maierovitch, avaliou que a “grave situação” ocorre “porque o ministério não se preparou para a piora da pandemia. A chance de faltar remédios para intubação é grande”, adverte. 

O jornal também mostra que, com a falta de medicamentos, hospitais de São Carlos, São Sebastião e Pirassununga, no estado de São Paulo, fecharam leitos porque não têm como atender os pacientes no momento em que há mortes na fila de espera por vagas.

Na terça-feira (13), o governo de São Paulo enviou ofício ao Ministério da Saúde solicitando a entrega de insumos no prazo de 24 horas para abastecer 643 hospitais. A secretaria estadual de Saúde afirma que o estoque atual é suficiente para “alguns dias” e cobrou empenho do governo federal para evitar um colapso maior no atendimento em meio à escalada de casos de covid-19. A pasta ainda destacou que este era o nono ofício enviado ao ministério em 40 dias. 

Os riscos de desabastecimento

O secretário estadual da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, acusa também o ministério de ter suspendido o fornecimento de medicamentos ao estado por seis meses. Segundo ele, o governo federal não explicou o critério de distribuição adotado.

A responsabilidade pela compra dos insumos habitualmente é de estados, municípios e hospitais, mas, desde março, quando a pandemia ficou mais grave, o governo federal passou a centralizar a compra com os laboratórios de anestésicos, sedativos e bloqueadores neuromusculares, tornando-se responsável também por distribuir os remédios por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). 

À imprensa, o ministro da Saúde afirma que o governo fará um pregão internacional para a compra dos componentes do kit intubação. E que nos próximos 10 dias deve chegar um lote de insumos adquiridos pela Opas para “fortalecer o estoque”. Também é esperada para esta quinta (15), segundo Queiroga, a chegada de 2,3 milhões de medicamentos para intubação doados por um grupo de empresas.

Medicamentos para três dias

Também na terça, contudo, um levantamento da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes de São Paulo indicou que cerca de 300 hospitais dessas unidades têm os medicamentos necessários para apenas três dias. Na falta desses insumos, os profissionais de saúde também recorrem a práticas de contenção, como amarrar os pacientes no leito, apesar dessa ser uma medida reprovada pela categoria. 


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