Infração ética

Conselhos de medicina investigam tratamento precoce contra a covid-19

Pelo menos 43 sindicâncias foram abertas para investigar médicos suspeitos de prometer resultados a partir de medicamentos ineficazes. O chamado “kit covid” já é associado a mortes

LQFEx/Ministério da Defesa
LQFEx/Ministério da Defesa
Parlamentares governistas na CPI da Covid seguem na defesa do "tratamento precoce" com informações falsas e dados distorcidos

São Paulo – Os conselhos regionais de medicina do país já abriram ao menos 43 sindicâncias para investigar médicos que prescreveram como garantia de cura o suposto “tratamento precoce” contra a covid-19. Trata-se de uma espécie de “coquetel” de remédios, que pode incluir hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina, entre outras drogas. Todas já se mostraram ineficazes contra a doença do novo coronavírus e não tiveram comprovação científica. O uso foi desaconselhado pelas agências de saúde de todo o mundo.  

Ao prometerem resultados ou prescreverem de forma sensacionalista o uso do chamado “kit covid”, os médicos são suspeitos de cometer infrações éticas. Se comprovado o desvio, os profissionais podem ser punidos com advertência ou até cassação do registro médico. De acordo com levantamento do jornal O Estado de S. Paulo, o CRM de São Paulo investiga 25 casos. Há ainda outros 10 registrados no Rio Grande do Sul e oito pelo conselho da Bahia. O CRM do Paraná também revelou à reportagem apurar possíveis irregularidades, mas não informou o número total de investigações abertas. 

As mortes por trás do kit covid

Em dois casos, um em São Paulo e outro na Bahia, médicos já tiveram a licença profissional suspensa temporariamente, segundo o jornal, por adotarem o tratamento precoce contra a covid-19. Os conselhos de Alagoas, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro e Tocantins disseram não ter nenhum procedimento de investigação em curso. Mas o indicado é que o volume de possíveis infrações seja ainda maior, diante de inúmeras manifestações, principalmente em redes sociais, disseminando o uso do “kit covid”. 

Apesar do Conselho Federal de Medicina (CFM) argumentar que os profissionais têm autonomia para prescrever os medicamentos, o órgão não aprova a divulgação do suposto tratamento precoce como uma “garantia de cura”. Desde março que os remédios sem eficácia já são também associados à morte de pelo menos três pessoas por hepatite. O kit covid-19 é suspeito de ter provocado hemorragias, insuficiência renal e arritmias em pacientes que fizeram uso dos medicamentos. Em São Paulo, o uso dessas drogas ineficazes contra a doença do coronavírus também colocou cinco pacientes na fila de transplante de fígado.