Povo sem vacina

Bolsonaro deixa Anvisa desinformada sobre Sputnik, diz ex-ministro da Saúde

Para o deputado Alexandre Padilha, Bolsonaro ligaria para Putin se fosse um estadista. E o Itamaraty faria contato imediato com a Federação Russa para estabelecer um comitê para troca de informações

Casa Rosada
Casa Rosada
Presidente da Argentina. Alberto Fernández, recebeu primeira dose da Sputink V em 21 de janeiro. Mais de três meses depois, Brasil ainda não tem respostas para liberação da vacina

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro é o responsável pela falta de informações suficientes para que a Anvisa possa aprovar a importação da vacina Sputnik V. A crítica é do ex-ministro da Saúde, o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), para quem a Anvisa e principalmente seus técnicos não podem ser responsabilizados pela decisão da agência de negar autorização. A justificativa foi a falta de informações confiáveis para atestar segurança e eficácia da vacina, bem como dos processos de fabricação. “A culpa é de Bolsonaro e de sua política externa preconceituosa, que deixam a Anvisa sem informações e o povo sem a vacina. Hoje cedo, em reunião da comissão externa de acompanhamento da covid-19, técnicos da Anvisa disseram que não estão descartando a vacina Sputnik V, mas que precisam de mais informações para analisar e dar a decisão final”, disse o parlamentar.

Inoperância de Bolsonaro

Em entrevista à RBA, Padilha atribuiu à inoperância de Bolsonaro a má condução do problema, já que a vacina foi oferecida ano Brasil em junho do ano passado. No total, considerados os outros laboratórios, foram oferecidas 700 milhões de doses. “A atitude de um estadista, como Lula fez várias vezes, como eu fiz na condição de ministro da Saúde, era ter montado desde o início o que chamamos de comitê regulatório biltateral da Anvisa e da agência russa. E assim acompanhar passo a passo as informações, locais de fabricação, dados sobre os estudo da vacina, sua eficácia. Desse modo, quando foi publicado estudo de eficácia, em novembro, a Anvisa já teria todas as informações para tomar a sua decisão”, disse.

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Padilha: atitude de um estadista seria ter montado desde o início um comitê regulatório bilateral da Anvisa e da agência russa (Cecília Bastos/Jornal da USP)

Até ontem, o Brasil havia aplicado a primeira dose em 29,5 milhões de pessoas, o equivalente a 13% da população. Desse total, apenas 13,1 milhões receberam a segunda dose, ou seja, 6,2% da população com a imunização completa. A demora na vacinação está associada justamente ao número insuficiente de vacinas para um país que enfrenta o descontrole da pandemia. O Brasil tem mais de 392 mil mortos.


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O ex-ministro frisou a inoperância do governo Bolsonaro e de sua política externa em relação à Sputnik, prejudicando a Anvisa. “Diante da situação, qual a atitude correta que Bolsonaro deveria tomar neste momento? Deveria ligar para o presidente da Rússia Vladimir Putin. E qual deveria ter sido a atitude dos ministros da Saúde e das Relações Exteriores? Entrar em contato imediato com a Federação Russa para estabelecer um comitê com força-tarefa para troca de informações. Mas Bolsonaro colocou o Brasil no isolamento, deixando a Anvisa sem informações e o povo sem vacina.” O médico e ex-ministro lembra ainda que agência da Argentina aprovou o uso do imunizante em dezembro – e que o Brasil tem acordo de cooperação com o país vizinho há anos, e que poderia ter havido um intercâmbio de informações sobre os resultados da aplicação da Sputnik V por lá.


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