Furando fila

Camarote clandestino de vacinas pode ser esquema de corrupção, diz Padilha

Deputado e ex-ministro da Saúde defende investigação em caso de empresários e políticos de Minas Gerais que foram flagrados recebendo vacina em estacionamento de ônibus

Roberto Parizotti
Roberto Parizotti
O médico e ex-ministro da saúde Alexandre Padilha quer apuração sobre a vacinação clandestina

A cena é constrangedora. Políticos e empresários de Minas Gerais amoitados em uma garagem de ônibus para receber clandestinamente uma dose de vacina contra a covid-19. Fazem escondido porque sabem que a vacinação é ilegal, não está sendo feita pelo SUS. E nem todos os que estão no grupo pertencem às faixas etárias previstas para receber a imunização.

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O deputado e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP) fala em algo mais grave. “O governo federal acabou de fazer um contrato de 100 milhões de doses com a Pfizer. Quem sabe essas vacinas não chegaram na mão de empresários e políticos como parte de propina para viabilizar a contratação dessas vacinas no país?”, questiona. “Isso tem de ser profundamente investigado, podemos estar descobrindo um tráfico para abastecer o camarote clandestino de vacinas e um grande escândalo de corrupção que envolva políticos e empresários no Brasil”, disse, em vídeo publicado na quinta-feira (25) em sua conta no twitter.

Crime grave

O grupo envolvido, segundo reportagem da revista Piauí, tem políticos e empresários ligados ao setor de transporte de Minas Gerais, além de familiares. A vacinação foi feita na terça-feira (23), na garagem da empresa de ônibus da viação Saritur. Era a primeira das duas doses compradas por R$ 600. Ainda segundo a revista, o deputado estadual de Minas Alencar da Silveira (PDT) e Clésio Andrade, ex-senador e ex-presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), estavam entre os que foram imunizados na garagem da Saritur.

“Acredito que a gente possa estar descobrindo alguma coisa tão grave quanto o que aconteceu em alguns países, como no Peru. Dirigentes do governo do Peru, políticos, receberam como propina várias doses de vacina para fazer um camarote, furando a fila do sistema de saúde”, acrescenta Padilha. “É um volume pequeno, a Pfizer já negou. Quem tem as vacinas tem de mostrar o contrato, guia de importação, quem assumiu a responsabilidade pelas condições sanitárias.”

Investigação

Alexandre Padilha, que é médico infectologista, fala na possibilidade de diversos crimes na ação dos empresários. “Não está claro como foi feita a importação dessa vacina, onde está o guia de importação da Anvisa. Não está claro o acondicionamento, as condições sanitárias da aplicação, quem está cuidando”, diz. “E não foram dadas informações para as autoridades de saúde, como a lei exige. Não foi feita a doação para o SUS, como a lei exige, de doar 100% para o SUS.”

O Ministério Público de Minas Gerais entrou na história e já abriu investigação sobre a vacinação clandestina, que correrá em sigilo. Por hora, sabe-se que os envolvidos podem responder criminalmente. Além disso, se a importação tiver sido antes da aprovação da vacina pela Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, há a possibilidade de multa e reclusão de dez a 15 anos por comercialização de produto sem registro.


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