Colapso

‘Sem lockdown, feriadões só adiam a desgraça’, diz médica

“A cada cinco mortes, quatro seriam evitáveis se não houvesse negacionismo. Nem nos piores pesadelos imaginávamos que chegaríamos ao colapso no sistema funerário”

Altemar Alcantara.Semcom
Altemar Alcantara.Semcom
Diante da omissão do governo federal e a falta de medidas efetivas das gestões estaduais e municipais, médica teme que país chegue a mais de 4 mil mortos por dia

São Paulo – Sem a imposição de um lockdown nacional e com medidas de pouca efetividade, como as antecipações de feriados, o Brasil só está “adiando a desgraça”. A médica sanitarista Karina Calife alerta para a falta de políticas de combate à pandemia, em meio aos recordes diários nos mais diversos dados sobre a covid-19. E também ao colapso que já atinge o serviço funerário.

Nesta segunda-feira (29), por exemplo, a média de mortes calculada em sete dias chegou 2.634 vítimas do vírus. A médica destaca o fechamento total da cidade de Araraquara (SP), que impôs um lockdown de 30 dias. Na última sexta-feira (26), dia em que o estado de São Paulo registrou o maior número de mortos pela covid-19 em toda a pandemia (1.193 vítimas), o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), anunciou que o município não teve nenhum óbito pela doença.


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Para tentar restringir o número de pessoas nas ruas e aumentar o isolamento social, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), antecipou diversos feriados, mas houve pouca efetividade, pois os paulistanos foram ao litoral e encheram as estradas do estado. “O governo precisa assumir o que deve ser feito e a maior necessidade do país é o lockdown. Nós vimos o que ocorreu em Araraquara, reduzindo número de casos e mortes. É preciso fechar tudo, inclusive estradas e aeroportos. Não é eficiente adiantar feriado de 2022. O prefeito de Araraquara teve coragem para tomar a decisão, porque a gente só está adiando a desgraça”, afirmou Karina Calife, professora do Departamento de Saúde Coletiva na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, à jornalista Talita Galli, da TVT.

Colapso sanitário

O colapso no sistema de saúde também chegou ao sistema funerário. Tatno que, nos últimos dias, a prefeitura de São Paulo contratou vans escolares para transportar corpos de pessoas mortas pela covid-19 na cidade de São Paulo. Os veículos serão adaptados e atenderão os novos horários de sepultamento, que foram estendidos pela prefeitura, após o aumento de enterros. “Nem nos piores pesadelos imaginávamos que vivenciaríamos um dos piores problemas que pode ocorrer para o sistema de saúde é o colapso no serviço funerário. Eu vejo essa notícia com preocupação, mas não tem o que fazer”, lamentou Karina.

Diante da omissão do governo federal e da falta de medidas efetivas das gestões estaduais e municipais, a médica sanitarista acredita que a situação pode piorar. “Eu temo que a gente chegue a mais de 4 mil mortos por dia. E pior é que a cada cinco mortes, quatro seriam evitáveis se não houvesse o negacionismo e falta de coordenação. Por isso é preciso um lockdown.”


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